Mais trabalhos de casa não significa, necessariamente, maior sucesso escolar, de acordo com um estudo do projeto aQeduto, apoiado pelo Conselho Nacional de Educação.
O estudo “E os alunos, que responsabilidade”, o oitavo de uma série do projeto aQeduto, tendo por base dados do relatório PISA da OCDE, aponta Portugal como um dos países, entre os analisados, onde os alunos dedicam em média menos tempo aos trabalhos de casa.
Os estudantes portugueses dedicam em média quatro horas semanais, situando-se acima das três horas semanais na Finlândia (com a média mais baixa) e abaixo das sete horas semanais da Polónia e da Irlanda (com a média mais alta).
O estudo aponta que, em todos os países analisados, são os alunos com melhores resultados na prova de Matemática dos testes PISA em 2012 — usada como base para a análise –, aqueles que mais tempo passam a fazer trabalhos de casa, sobretudo se forem alunos que conjugam bons resultados com estatuto socioeconómico elevado.
“Contudo, a nível agregado, não se observa uma relação entre maior número médio de horas dedicadas à realização de trabalhos de casa e ‘score’ [resultado] médio dos países. Por exemplo, os alunos finlandeses dedicam pouco tempo a trabalhos de casa (3 horas) e o ‘score’ PISA é elevado (519), ao passo que, em Espanha, o número de horas (6) é muito mais elevado e o ‘score’ é relativamente baixo (484)”, exemplifica o estudo.
Notando que o estatuto socioeconómico e cultural dos alunos continua a ser determinante para os seus resultados em países como Portugal, Espanha, França ou Luxemburgo, e que em Portugal se encontra uma grande percentagem de alunos de baixo estatuto social, o estudo do projeto aQeduto aponta que há características como a perseverança e a autoconfiança que podem ter maiores impactos nos resultados, e que estão diretamente relacionados com esse estatuto social.
São a autoconfiança dos alunos e a sua eficácia na resolução de problemas que parecem ser mais determinantes para o sucesso, sendo essas as características que diferenciam os jovens com melhores resultados.
“É interessante verificar que os bons alunos de classes mais favorecidas se distinguem mais pela autoconfiança, enquanto os seus colegas de classes menos favorecidas, apesar de menos autoconfiantes, se diferenciam por serem, na prática, realmente eficazes na resolução de problemas“, lê-se no estudo.
Os autores ressalvam, no entanto, que os bons alunos com estatuto social mais baixo “declaram menos vontade em enfrentar e resolver situações complexas”.
“Isto é, verifica-se que a eficácia e a autoconfiança dos alunos tem um alto poder determinante na probabilidade de sucesso. A pergunta que fica é: como estimular estas características em quem não as demonstra?”, questionam.
Os autores apontam ainda que, no caminho para o sucesso, a maioria dos alunos nos países em análise assume a sua responsabilidade em atingir essa meta, apontando o esforço como fundamental para esse objetivo.
“Na maioria dos países, apenas cerca de 10% dos alunos consideram que ser bem-sucedido depende do professor”, refere o estudo.
No caso português, 50% assume ser sua inteira responsabilidade chegar ao sucesso, mas entre 10% a 15% dos alunos, consoante o estatuto socioeconómico e os resultados, dizem que o sucesso depende dos professores.
Sobre a perseverança em Portugal, os autores escrevem que “esta característica é transversal aos alunos com ‘scores’ elevados independentemente do seu estatuto socioeconómico e cultural”, e que “os bons alunos portugueses são os que revelam maior perseverança contrariamente aos alunos franceses, cujo nível de perseverança é muito baixo, mesmo em alunos com resultados elevados”.
No entanto, se o estatuto socioeconómico não pesa na atitude de nunca desistir, os resultados sim: entre os jovens portugueses mais carenciados com resultados mais fracos, só 45% dizem nunca desistir, enquanto entre aqueles que têm resultados elevados há 74% que afirmam que nunca desistem.
O projeto aQeduto trabalha sobre os temas de avaliação, qualidade e equidade em educação, e resulta de uma parceria entre o CNE e a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
/Lusa