O magnetar XTE J1810-197 é uma das estrelas mais estranhas do Universo. Depois de ter estado 10 anos adormecido, os cientistas descobriram que as suas emissões eletromagnéticas de baixa frequência estão distorcidas de uma forma nunca antes vista e que a estrela parece estar a oscilar.
No final de 2008, o magnetar parou, de forma repentina, de transmitir. Desde então, e apesar do súbito silêncio do rádio, os cientistas não tiraram os olhos dele. Uma década depois, tão subitamente como cessou, a emissão de ondas de rádio recomeçou.
Agora, uma equipa de investigadores analisou essas ondas em dois artigos científicos distintos e deparou-se com resultados extremamente estranhos: as emissões electromagnéticas de baixa frequência estão distorcidas de uma forma nunca antes vista e a estrela parece estar a oscilar.
“Ao contrário dos sinais de rádio de outros magnetares, XTE J1810-197 está a emitir enormes quantidades de polarização circular, mudando rapidamente”, explicou o astrofísico Marcus Lower, do CSIRO, na Austrália. “Nunca tínhamos visto nada assim antes”, acrescentou, citado pelo Science Alert.
Os magnetares, por si só, já são estranhos. Trata-se de estrelas de neutrões muito jovens, ou seja, núcleos colapsados de estrelas massivas mortas que se transformaram em supernovas e ejetaram a maior parte do material numa enorme explosão.
O núcleo que resta colapsa sob a ação da gravidade e é denso – até 2,3 vezes a massa do Sol, comprimido numa bola com apenas 20 quilómetros de diâmetro.
Após este processo de colapso, as estrelas de neutrões possuem um campo magnético incrivelmente poderoso, ainda que muito breve. Isto faz com que os magnetares se comportem de maneira estranha. No entanto, a recente atividade do XTE J1810-197 não tem precedentes – e pode fornecer novas informações sobre estas misteriosas estrelas.
Nesta investigação, os cientistas mediram uma propriedade da luz emitida pela estrela, conhecida como polarização e descobriram que estava a emitir enormes quantidades de luz polarizada de forma circular.
A equipa defende que este comportamento pode acontecer quando a luz tem que viajar através de uma “sopa” espessa e superaquecida de partículas que pode ser encontrada no campo magnético de uma estrela de neutrões.
O comportamento do XTE J1810-197 não corresponde exatamente a esta previsão, mas os cientistas sugerem uma explicação muito parecida.
“Os nossos resultados sugerem que há um plasma superaquecido acima do pólo magnético do magnetar, que atua como um filtro polarizador. De que forma é que o plasma está a despoletar este comportamento, ainda não sabemos”, adiantou Lower.
A mesma investigação permitiu ainda descobrir que a polarização revelou uma mudança na orientação do magnetar em relação à Terra. No fundo, parece estar a oscilar, como um pião. O mais estranho é que, ao longo dos meses seguintes, esta oscilação diminuiu significativamente e acabou por parar completamente.
Os investigadores acreditam que isto pode dever-se a uma rutura na superfície da estrela, que pode fazer com que ela oscile temporariamente e produza partículas superaquecidas no campo magnético.
Se este for o caso, então pode pôr fim à teoria de que magnetares em precessão emitem as raras e repetidas rajadas de rádio rápidas que são detetadas ocasionalmente. Por outro lado, pode indiciar a presença de uma estrutura interna nestas estrelas de neutrões relacionada com a nossa compreensão fundamental da matéria.
Os artigos científicos foram ambos publicados na Nature Astronomy e podem ser encontrados aqui e aqui.