Estalou o verniz entre França e a Ucrânia (por causa de frangos)

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Stephanie Lecocq/EPA

Emmanuel Macron

A abertura do mercado europeu aos produtos ucranianos após o início da guerra está a revoltar os agricultores europeus, que acusam as empresas de avicultura ucranianas de concorrência desleal.

Os recentes protestos dos agricultores estão a ter repercussões nas relações diplomáticas entre a França e a Ucrânia.

A MHP, maior empresa de avicultura da Ucrânia, é um dos principais alvos dos produtores europeus, que acusam a empresa de concorrência desleal ao inundar o mercado com frangos baratos e de se aproveitar da generosidade da União Europeia, que abriu o mercado único aos produtos ucranianos na sequência da guerra com a Rússia.

Emmanuel Macron juntou-se ao coro de críticas no início do mês, apontando o dedo ao fundador da MHP, Yuriy Kosiuk, que acusa de estar a enriquecer à custa dos produtores europeus. Kosiuk, conhecido como o “rei dos frangos”, é um dos homens mais ricos da Ucrânia.

“Não estamos interessados em ajudar este homem a fazer mais dinheiro. Esse não é o objectivo, não ajuda a Ucrânia”, afirmou o Presidente francês.

John Rich, presidente executivo da MHP, está agora a sair no contra-ataque e mostrou-se surpreendido com os ataques da França. “Fiquei chocado ao ver como a MHP pode ser retratada como anti-agricultor e anti-UE. Às vezes o sector alimentício ucraniano é retratado erradamente como o bárbaro à porta ou a raposa no galinheiro”, afirma ao Politico.

A empresa acredita ainda que estas alegações fazem parte de uma campanha de desinformação orquestrada pela concorrência. “Esta história deve ter sido impulsionada por interesses adquiridos em algum ponto do processo”, disse Rich.

Já há vários anos que a MHP é um dos principais alvos do lobby da avicultura da França, ANVOL, mas a tensão disparou com o início da guerra e entrada facilitada das aves ucranianas no mercado europeu.

As importações de frangos ucranianos cresceram 47% no bloco europeu entre 2022 e 2034 e a Comissão Europeia está agora a estudar impor limites às importações de açúcar, carne de aves e ovos da Ucrânia para apaziguar os produtores europeus.

Mas Rich ressalva que a MHP representa menos de 3% do total de importações de carne de aves em França e aponta que a Ucrânia não é o verdadeiro país culpado das dificuldades dos produtores franceses.

“O agricultor francês queixa-se das importações ucranianas, mas na verdade ele está zangado com as importações de todos os outros países. O acordo de livre comércio com a América do Sul é o elefante na sala“, defende, sugerindo que cortar nas importações à Ucrânia vai apenas ajudar os países do bloco Mercosul, especialmente o Brasil, que é agora o principal vendedor de frangos para a UE.

Apesar deste conflito, Rich garante ter um “enorme respeito pelo Governo francês e pelo Presidente francês”. “Vou sempre agradecer-lhes e a ele pessoalmente pelo enorme apoio que estão a dar à Ucrânia, mas algo se perdeu na tradução”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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