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Onde está Santiago Maldonado, o homem que se tornou símbolo da luta pela liberdade?

luzencor / Flickr

Santiago Maldonado está desaparecido desde 1 de agosto

O desaparecimento de Santiago Maldonado, a 1 de agosto, está a deixar em suspenso a Argentina e a testar o Governo de Macri.

Santiago Maldonado é um artesão de 28 anos de Buenos Aires que se tinha mudado há pouco para a Patagónia, onde ganhava dinheiro a fazer tatuagens. O lugar escolhido por Santiago tinha ficado famoso pelas muitas comunidades hippies que albergava e, hoje em dia, atrai pessoas com estilos de vida alternativos.

No entanto, o que tornou Santiago Maldonado numa personagem famosa não foi o lugar onde escolheu viver. Desde 1 de agosto que a Argentina tem sido palco de diversas manifestações que pedem o aparecimento de Maldonado. “Com vida”.

Isto porque o jovem de 28 anos simpatizava com a revindicação das comunidades mapuches, indígenas do sul da Argentina e do Chile, sobre os 900 mil hectares comprados em 1991 pelo grupo Benetton.

A 1 de agosto, um grupo de mapuches cortou uma estrada em protesto contra a prisão recente do líder da sua comunidade, Facundo Jones Huala, em junho passado e cuja extradição é reclamada pela justiça chilena. No meio do protesto estava Maldonado, mas Sergio, irmão de Santiago, afirmou à BBC que o jovem não era “militante nem ativista“, apenas se solidarizou com um protesto do grupo Resistencia Ancestral Mapuche.

No entanto, a 1 de agosto, o juiz federal Guido Otranto, ordenou à Gendarmería Nacional que acabasse com o protesto. E foi essa a última vez que alguém viu Santiago.

Segundo os relatos, o corpo de cariz militar que é uma das principais forças de segurança do país atuou com violência sobre os protestantes mapuches. “Quando eles começaram a disparar balas de borracha começamos todos a correr e atravessamos a nado o rio Chubut”, disse uma das manifestantes.

Já do outro lado, “vimos o Santiago agarrado a uma árvore, sem atravessar o rio. Depois ouvimos alguém dizer: ‘Estás detido’ e logo a seguir ‘Já está, já está’, mas não sabemos se era o Santiago ou alguém das autoridades. Foi a ultima vez que o vimos”, assinalou a manifestante.

Outros testemunhos citados pela BBC asseguram que viram Santiago ser violentado pela Gendarmería Nacional e a seguir metido numa carrinha. No entanto, os militares negam ter detido o jovem.

O juiz Otranto, que também é responsável pela investigação do desaparecimento de Santiago, diz que “por enquanto não há elementos” para argumentar que foi preso pela Gendarmería . A ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, indicou que nem se pode confirmar que Santiago estava naquele lugar “porque todas as pessoas estavam encapuzadas”.

O desaparecimento de Santiago aconteceu num momento muito delicado para o país, que no próximo domingo realiza as eleições legislativas primárias. São as primeiras eleições que o governo de Maurício Macri, que enfraqueceu nos últimos dois anos, enfrenta desde que assumiu o poder.

O caso de Santiago foi o centro de uma tempestade política quando a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner (2007-2015), principal rival do partido no poder, denunciou o seu desaparecimento em sua conta no Twitter. Fernández culpou Macri pelos factos.
“O governo nacional de que depende a Gendarmeria tem a obrigação de denunciar onde é Santiago e a responsabilidade por sua aparência, Santiago deve aparecer e ele deve aparecer vivo”, escreveu no domingo.

Passado uma semana do desaparecimento, organizações sociais e outros manifestante juntaram-se a uma marcha em frente ao Congresso Nacional que foi convocado pela família Maldonado.

Durante o protesto, houve sérios incidentes: alguns manifestantes mandaram bombas Molotov na polícia, derrubaram um operador de câmara e atacaram uma unidade de televisão móvel. Enquanto isso, Germán Maldonado, irmão de Santiago, falou em conferência de imprensa.

“Nós acreditamos que a situação é muito clara. O Santiago foi torturado e descartado ou o deixaram trancado e esperam que as marcas de violência desapareçam para o libertar”, disse ele.

Enquanto isso, o Secretário de Segurança Interna, Gerardo Milman, disse que investigarão todos os cenários. “Todas as hipóteses são possíveis” , disse o funcionário, que afirmou que o governo neste momento não confia em “ninguém” e investigará todos os possíveis suspeitos.

Santiago Maldonado está desaparecido desde 1 de agosto

35 dias de silêncio

O ato, já condenado por organismos internacionais como o Comité contra o Desaparecimento Forçado de Pessoas da ONU, pelo Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel ou ainda pelos milhares que há dias se manifestaram na Plaza de Maio, mereceu do Governo de Mauricio Macri um tratamento diferente.

O Presidente argentino demorou 35 dias a pronunciar-se sobre o caso, e quando o fez apenas afirmou estar “preocupado” e a colaborar com a justiça, pois “outra coisa não se pode fazer”.

Teve tempo ainda de lamentar a violência que irrompeu no culminar da manifestação que assinalava um mês da desaparição do jovem: “Temos de ser prudentes e afastar-nos de qualquer manifestação tendenciosa ou violenta”.

A marcha tinha sido convocada pelos pais de Santiago Maldonado para assinalar um mês do desaparecimento do filho, que acreditam ter tido mão policial. E em todo este tempo, desde que Santiago foi visto pela última vez, o Governo tentara enveredar por linhas de investigação que ilibavam a Gendarmería de qualquer responsabilidade.

Patricia Bullrich, ministra de Segurança, chegou ao ponto de sugerir perante o Parlamento que o jovem teria sido ferido e morto em consequência da sua participação num ataque de resistentes mapuches a um vigilante da Benetton, em finais de julho. Porém, essa hipótese caiu por terra esta segunda-feira, quando as peritagens revelaram que o sangue, que tinha sido encontrado no punhal do vigilante, não é o de Maldonado.

Neste momento, a peritagem está a analisar três peças de roupa encontradas nos veículos da Gendarmería, o que poderá trazer alguma luz sobre o ocorrido. Mas logo desde o início a família de Santiago fez notar que esta força militar tardou demasiado em começar a ser investigada. Quando isto aconteceu, os veículos utilizados durante a operação já tinham sido minuciosamente lavados.

Os nomes dos 130 agentes que participaram só foram fornecidos pela Gendarmería a 18 de agosto, após repetidos pedidos do juiz encarregado do caso e ultrapassando todos os prazos legais. A 20 de agosto, Ariel Arci, um amigo de Santiago que se encontrava sob o estatuto de testemunha protegida, denunciou que a ministra Bullrich revelou o seu nome perante a Câmara de Senadores.

A verdade é que, mais de um mês depois do desaparecimento de Maldonado, as respostas continuam, também elas, por aparecer.

A pergunta que todos continuam a fazer permanece relegada a um buraco negro de dúvidas e omissões. Pérez Esquivel pediu a demissão da ministra Patricia Bullrich. No dia 1 de setembro, a polícia reprimiu fortemente o fim de uma manifestação que todos descrevem como “pacífica”, detendo 30 pessoas e mantendo-as até 48 horas incomunicadas. Algumas foram obrigadas a despir-se.

Segundo o “Págia 12”, um rapaz foi agredido e preso por filmar com o telemóvel a ação policial. E ao recusar-se a colaborar ouviu: “O que queres? Desaparecer também?” Outro foi “caçado” a jantar numa pizzaria nos arredores da Plaza de Mayo e levado preso, embora na ata de detenção se afirme que esta ocorreu na Plaza de Mayo.

ZAP //

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