“Um espectáculo de feira irritante”. A NATO está frustrada com a Hungria

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Patrick Seeger / EPA

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán

Os responsáveis da NATO estão irritados com o bloqueio da Hungria à adesão da Suécia. Budapeste tem sido o único aliado da Turquia nesta batalha.

O bloqueio da Hungria à adesão da Suécia à NATO está a irritar e frustar as chefias da aliança atlântica.

Depois de meses de negociações, a Hungria e a Turquia finalmente deram luz verde à entrada da Finlândia, mas a adesão sueca continua num impasse. O parlamento húngaro está a bloquear o apoio à candidatura devido às críticas anteriores de responsáveis políticos suecos à democracia de Budapeste.

Um porta-voz do Governo disse mesmo que Estocolomo se senta num “trono de superioridade moral a desmoronar-se“. Mas, nos bastidores, há quem acredite que esta oposição se deve antes à sua proximidade a Ancara e Moscovo.

De acordo com um alto diplomata europeu ouvido pelo Politico, há “zero compreensão” sobre a posição húngara em relação à adesão sueca e a situação é um “espectáculo de feira irritante“.

A verdade é que a narrativa de Orbán tem mudado nos últimos meses. A oposição da Turquia deveu-se a acusações de que a Suécia e a Finlândia apoiam e financiam militantes curdos próximos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), a guerrilha curda da Turquia que Ancara descreve como uma organização terrorista.

“A Suécia é um centro de incubação de organizações terroristas. Acolhe terroristas. No seu Parlamento, há deputados que defendem os terroristas. A quem acolhe terroristas não diremos ‘sim’ quando quiserem juntar-se à NATO”, declarou Erdogan. Dado ser precisa unanimidade dos membros da aliança na hora de mais países aderirem, o processo começou a arrastar-se.

Na altura, a Hungria deu um “nim” à adesão dos dois países nórdicos, ao contrário de vários outros membros da aliança, como Portugal, que rapidamente apoiaram o alargamento. A justificação dada foi que o Parlamento húngaro estava ocupado com outros assuntos prioritários e não podia debater este tema de imediato.

Mas, em Fevereiro, Budapeste mudou de tom e começou a criticar abertamente Estocolomo e Helsínquia e a ripostar contra as críticas que os dois países já fizeram à democracia húngara e a algumas das políticas polémicas de Orbán, como a recusa ao acolhimento de refugiados ou o ataque aos direitos LGBT.

Como que por coincidência, no mesmo dia que Erdoğan disse que iria desbloquear a candidatura da Finlândia e manter a oposição à da Suécia, o partido de Orbán anunciou também que dava luz verde à entrada finlandesa, mas continuava a travar a adesão de Estocolomo.

Um responsável húngaro revela, em anonimato por medo de retaliação, que acredita que a postura de Orbán está ligada à sua relação próxima de Erdoğan. O primeiro-ministro húngaro elogia frequentemente o presidente turco e até já marcou presença nas cimeiras do Conselho Túrquico

A posição de Budapeste integra uma estratégia de política externa mais abrangente, que se baseia numa maior proximidade a países com relações mais tensas com o Ocidente, como é o caso da Turquia, que está mais nas franjas da NATO.

“Acho que Orbán acredita piamente no declínio do Ocidente“, explica Péter Krekó, director do Instituto de Capital Político, que acredita que a relação da Hungria com a Turquia é “extremamente importante” neste contexto.

Já Balázs Orbán, o director político do primeiro-ministro — que não é da sua família apesar de partilharem o apelido — refere apenas que as “questões constantes sobre o estado da democracia [da Hungria] são insultuosas não só para o Governo como também para o povo”.

Pressão sobre a União Europeia

Para além da lealdade à Turquia, a Hungria pode também estar a aproveitar o bloqueio à Suécia, que actualmente preside ao Conselho da União Europeia, para colocar pressão sobre as autoridades europeias.

A União Europeia chegou até a fazer uma ameaça inédita de cortar mais de sete mil milhões de euros de fundos europeus à Hungria e bloqueou o acesso de Budapeste à “bazuca” de recuperação do impacto económico da pandemia. A Hungria tem sido obrigada a ceder às exigências de Bruxelas e está há meses a negociar com os responsáveis europeus para desbloquear o dinheiro.

A rejeição húngara da entrada da Suécia da NATO pode assim ser uma estratégia para pressionar os suecos a usar a presidência do Conselho Europeu para tentar desbloquear os fundos para a Hungria, havendo uma troca de favores.

Nos últimos dias, Budapeste também tem atacado Estocolmo por ser um dos países europeus que apoia o processo instaurado contra a Hungria por causa das suas leis discriminatórias contra a população LGBT.

Adriana Peixoto, ZAP //

8 Comments

  1. Estes bloqueios da Turquia e da Hungria são a prova de que Putin não precisava de invadir a Ucrânia para impedir a adesão desta à NATO, bastava-lhe convencer o amigo Orbán a fazer aquilo que ele está a fazer agora em relação à Suécia. Poupava-se tanta vida e tanto dinheiro.

  2. Hungaria devia de sair da UE e da Nato (está dentro???)
    Oferecer a Hungria, – doar aos russos – em troca da Ucrania e do enclave ?? Hmm?

  3. A Hungria é o único país da Europa com coragem para preservar a sua soberania e recusar submeter-se às imposições americanas. Precisávamos de mais alguns países assim para libertar a Europa do jugo americano.

  4. Se fosse o contrário, seria igual? Mais de metade dos cidadão suecos não são suecos. O Afeganistão foi entregue a terroristas e não tem problema, o 11 de Setembro foi uma farsa… Vários pesos e várias medidas.

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