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Quando o Egito romano foi atacado pelos kushitas, no que é atualmente o Sudão, as forças romanas responderam destruindo uma cidade kushita — ou assim se pensava. Aparentemente, terão apenas fingido que o fizeram.
Uma escavação no norte do Sudão sugere que havia limites para o poderio militar do Império Romano — mesmo que os romanos não estivessem preparados para os admitir.
As forças imperiais afirmaram ter destruído uma antiga cidade controlada pelos seus inimigos, mas afinal não o fizeram.
Após a queda e morte de Cleópatra em 30 a.C., o Egito tornou-se uma província do emergente Império Romano. Mas o Egito romano era relativamente fraco e as suas fronteiras a sul foram atacadas por forças do Reino de Kush, que controlava o que é hoje o norte do Sudão.
Quando Augusto, o primeiro imperador romano, soube deste facto, exigiu que os seus exércitos no Egito respondessem com uma demonstração de força militar, explica a New Scientist.
Registos antigos, copiados e transmitidos ao longo dos tempos, indicam que a campanha foi um êxito: segundo o cronista Estrabão, os romanos penetraram profundamente no reino de Kush antes de atacarem e destruírem Napata, uma importante cidade kushita, em 23 a.C.
Mas será que destruíram?
Napata faz agora parte de um sítio arqueológico que está a ser investigado por investigadores do Projeto Arqueológico de Jebel Barkal (JBAP). Recentemente, a equipa escavou no local vestígios dos últimos séculos a.C.
“Deveria haver indícios da suposta destruição da cidade”, diz Geoff Emberling, investigador da Universidade do Michigan e co-diretor do JBAP.
Mas na verdade não havia sinais de danos catastróficos, tais como armas abandonadas espalhadas pelo local ou provas de que os edifícios tivessem sido saqueados e incendiados.
“Não há sinais de destruição nem mesmo no que teria sido o edifício mais importante do sítio, o Templo de Amun de Napata”, diz Sami Elamin, membro do JBAP e investigador da Corporação Nacional de Antiguidades e Museus do Sudão. A investigação ainda não foi publicada, mas é mencionada no blogue do JBAP.
Não se sabe ao certo porque é que Napata escapou à destruição, diz por seu turno Tim Skuldbøl, membro do JBAP e investigador independente. “Os exércitos romano e kushita estavam ambos no terreno, pelo que não me parece que Napata estivesse bem defendida”.
“Os romanos teriam de atravessar várias centenas de quilómetros de deserto para chegar a Napata. É possível que tenham decidido que não valia a pena o esforço e tenham simplesmente fingido que tinham destruído a cidade, diz Skuldbøl.
“Não devemos esperar que os relatos dos sucessos da expedição romana correspondam à realidade no terreno”, diz David Mattingly, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, que não esteve envolvido na escavação. “Penso que o relato da destruição total foi provavelmente muito exagerada — para benefício do público romano”.
Fazer tal afirmação era arriscado, diz Emberling, mas talvez os romanos no Egito se sentissem confiantes de que o Imperador Augusto, a milhares de quilómetros de distância, em Roma, nunca saberia a verdade.
E nós só a soubemos dois mil anos mais tarde.
Os romanos tinham um império gigantesco para controlar. O maior que já existiu na Europa e Médio Oriente. Um império que estava constantemente a ser alvo de ataques. Por isso, sim, era um império poderoso.