Escândalo em Espanha: Pagamentos a deputados com prostitutas, cocaína, viagra e presunto

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As autoridades espanholas desmantelaram um esquema de pagamentos a políticos, que envolvia festas com prostitutas, cocaína, viagra e presunto.

A imprensa espanhola tem divulgado incessantemente novos detalhes do caso, que envolve um ex-deputado do PSOE, Juan Bernardo Fuentes Curbelo, mais conhecido por Tito Berni.

O político apresentou a demissão do cargo após o caso ser conhecido publicamente. O El País sugere que o deputado foi expulso pela própria direção do partido.

O esquema terá ocorrido entre o final de 2020 e a primeira metade do ano seguinte. Em causa estão empresários das Canárias ligados à agricultura e pecuária que pagavam por favores e benesses.

Há pelo menos 12 empresários envolvidos, que pretendiam obter subvenções, licenças e acordos comerciais vantajosos. Os empresários que financiavam o esquema queriam fazer parte da Zona Especial Canária (ZEC), que tem um regime fiscal favorável.

O intermediário entre os empresários das Canárias e Curbelo era Marcos Antonio Navarro Tacoronte, que deu o nome “Mediador” ao caso.

O sumário do caso inclui as faturas das refeições e festas alegadamente pagas ao ex-deputado socialista Juan Bernardo Fuentes Curbelo. De acordo com o El Confidencial, algumas das festas decorreram nos piores momentos da pandemia.

Uma das festas até aconteceu na madrugada de 23 de setembro de 2020, poucas horas antes de o Congresso dos Deputados ler uma declaração institucional contra a prostituição no Dia Internacional contra a Exploração Sexual.

No restaurante Ramsés, na Plaza de la Independencia, em Madrid, o deputado do PSOE e Tacoronte consumiram quatro copos de rum Santa Teresa, três gins tónicos Hendricks e mais três Bombay Sapphire. Além disso, pediram um prato de presunto Joselito Gran Reserva. O valor da fatura superou os 180 euros.

Tito Berni não foi o único felizardo. Outros jantares no mesmo restaurante incluíram a presença de até 15 deputados do grupo parlamentar socialista. O PSOE está agora a investigar a situação internamente, mas recusou dar o nome dos outros deputados envolvidos.

Taishet Fuentes, sobrinho de Curbelo de quem herdou o cargo de diretor-geral de Pecuária do governo das Canárias quando o tio passou a deputado, é um dos organizadores e frequentadores das festas com prostitutas, cocaína e viagra.

Há ainda uma fatura de 200 euros no restaurante La Quinta, em Madrid; outra na marisqueira La Trainera, em Salamanca, no valor de 402 euros para três pessoas; e uma terceira fatura no restaurante Ribeira do Miño, em Chueca, no valor de 165 euros.

Depois do jantar neste último restaurante, Tito Berni terminou a noite no bar de alterne Club Sombras. Lá, o “mediador” deu ao ex-deputado um alegado envelope com 2 mil euros em dinheiro vivo.

Os pagamentos não se limitaram a jantares, prostitutas e dinheiro. Curbelo também terá recebido noites de hotel e bilhetes de avião como contrapartidas.

Segundo o El País, o ex-deputado do PSOE terá ainda usado a conta bancária do modesto clube que preside para receber pelo menos 15 mil euros dos pagamentos. Uma parte desse dinheiro — estima-se que tenham sido quase 6 mil euros — foi desviada para uso pessoal.

As “canetas” de Tito Berni

As benesses não ficaram por aqui. Tito Berni também beneficiou da instalação gratuita de painéis solares em sua casa após beneficiar um empresário para conseguir um contrato de 90 mil euros.

O ex-deputado chegou mesmo a fazer pedidos explícitos de dinheiro ao “mediador”. Em 17 ocasiões forneceu contas bancárias a si vinculadas para receber dinheiro dos empresários.

O magistrado que está a julgar o caso aponta que os integrantes do esquema evitavam, na medida do possível, a menção expressa a dinheiro nas suas conversas e usavam a palavra “caneta” em vez de “euro”.

Numa troca de mensagens entre o ex-deputado e um dos empresários, Tito Berni pede a este que lhe traga “uma caneta” — supostamente mil euros — quando se deslocar a Madrid, ao que o empresário responde que vão ser “duas”.

Tito Berni está indiciado pelos crimes de corrupção passiva, falsificação de documentos, branqueamento de capitais, tráfico de influências e participação em organização criminosa numa operação em que foi detida uma dezena de pessoas.

A direita espanhola não está a conter o coro de críticas, a cerca de três meses das eleições regionais e municipais.

Daniel Costa, ZAP //

4 Comments

  1. Lá como cá, o xuxalismo é uma coisa linda. O nosso dinheiro dá mesmo para tudo.
    Um Estado pequeno, não permitia devaneios.

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