Podemos estar errados sobre as múmias do Egipto

Afinal, a mumificação egípcia não estará relacionada com a preservação do corpo após a morte. Há conotação divina…

Sempre olhámos – ou pelo menos, a maioria olhou – para as múmias no Egipto como uma forma de preservar os corpos depois da morte.

E se estivemos sempre errados, até agora? É a pergunta lançada pelo portal Business Insider, com base em perspectivas de especialistas no assunto.

Há cada vez mais arqueólogos a defender que, de facto, os corpos ficaram bem preservados por causa da mumificarão egípcia… mas foi sem querer. Terá sido uma consequência acidental.

E a “culpa” será dos primeiros egiptólogos modernos, que espalharam essa ideia com poucas evidências científicas.

Os estudiosos vitorianos (há séculos) deixaram no ar a ideia de que a preservação dos corpos eram um sinal do fascínio macabro pela vida depois da morte que… os próprios vitorianos tinham. Eram suposições desses estudiosos vitorianos, que foram sendo repetidas milhões de vezes até hoje.

Essa teoria vitoriana é contrariada pelos especialistas mais recentes: afinal, os egípcios queriam transformar os seus faraós em estátuas, obras de arte, com conotação religiosa.

Ou seja, para os egípcios daquele tempo, os seus reis e rainhas eram deuses. Por isso, se os seus corpos passassem a ser estátuas após a sua morte, eram uma forma de restaurar a sua forma legítima.

As estátuas de deuses eram ungidas com óleos e perfumes. E algumas envolvidas em lençóis – que poderiam ser sinónimo de algum tipo de divindade. Daí os corpos ficarem envolvidos em tiras de algodão ou linho.

Os órgãos da pessoa morta eram colocados em jarros adornados com cabeças dos deuses – durante o processo de embalsamamento, os egípcios poderiam ter a intenção de imbuí-los com o espírito divino do falecido.

Quando se encontram máscaras de ouro nos sarcófagos de reis ou rainhas, estamos perante uma espécie de versões divinas da pessoa falecida. Uma forma de elevar aquela pessoa a outro patamar; não são retratos realistas.

Além disso, diversas múmias que já foram analisadas não apresentam preocupações evidentes com a preservação do corpo – o rei Tutankhamon ficou preso no fundo do caixão.

“A ideia de que o espírito regressa ao corpo, ou de alguma forma anima o corpo, não é tão explicitamente articulada quanto podíamos imaginar”, avisou o curador Campbell Price.

“Parece que existe o mundo dos vivos e das pessoas que vivem as suas vidas quotidianas. E também existe o outro mundo, o mundo das imagens e representações, estátuas, relevos e pinturas. Isso não é apenas uma versão idealizada do Egipto – é uma imagem de deuses, uma espécie de mundo de estátuas”, continuou.

Price trabalha no Museu de Manchester, o espaço no Reino Unido que será palco de uma exposição com esta nova abordagem, a partir do dia 18 de Fevereiro: Golden Mummies of Egypt, ou “Múmias Douradas do Egipto”.

Obviamente, há quem defenda que a questão da preservação dos corpos – embora possa não ser o único objectivo da mumificação – não deve ser completamente rejeitada.

ZAP //

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