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Eriksson encontrou futebol português mais corrupto no regresso ao Benfica

Anders Henrikson / Wikimedia

O antigo reinador do Benfica, Sven-Göran Eriksson

O antigo reinador do Benfica, Sven-Göran Eriksson

O sueco Sven-Göran Eriksson diz ter encontrado no regresso ao Benfica, em 1989/90, um futebol português “mais sujo, mais corrupto”, na biografia do treinador, que vai ser publicada na próxima semana.

“Durante a minha ausência de cinco anos de Portugal, o futebol tornou‑se mais sujo, mais corrupto. Havia muitos escândalos e muitas conversas sobre árbitros. O FC Porto crescera e tornara‑se poderoso”, lê-se no capítulo do livro “Sven-Göran Eriksson – A minha história”, dedicado à sua segunda experiência pelo comando técnico dos “encarnados”.

Na biografia, que escreveu com Stefan Lövgren, o atual treinador dos chineses do Guangzhou Evergrande registou ainda que, entre os cinco anos que mediaram as suas passagens pelo Benfica, “os três ‘grandes’ de Portugal transformaram-se nos dois ‘grandes’. Agora, era tudo entre Benfica e FC Porto. O Sporting ficara para trás”.

“O Benfica tinha uma boa equipa, definitivamente capaz de ganhar o campeonato, mas, ao fim de cinco jornadas, já o FC Porto era o grande favorito. Só que, nesse ano, o título nacional não era a nossa grande ambição. Tínhamos os olhos postos na Taça dos Campeões, a mais prestigiante das competições europeias”, recordou.

Esteve perto de concretizar esse objetivo, com a polémica qualificação para a final, “selada” com um golo com a mão de Vata, no Estádio da Luz, em Lisboa, frente ao Marselha, depois de ter perdido por 2-1 no recinto dos franceses.

“Do banco, não consegui ver nada – só que a bola caminhou na direção do nosso jogador Vata e entrou na baliza em seguida. Alguns dos jogadores do Marselha reclamaram desabridamente, mas o golo foi validado (…). Os jogadores do Marselha acusavam Vata de ter marcado com a mão. Na cabina, fui ter com ele e perguntei‑lhe como tinha sido. Não respondeu. Só olhou para o chão. Disse‑lhe que não estava zangado. Pelo contrário. Havíamos ganho e estávamos na final. Vata levantou‑se e mostrou‑me como tinha tocado na bola com o braço. ‘Okay’, disse eu. E até lhe dei uma palmada no ombro”, explicou.

No encontro decisivo, frente aos italianos do AC Milan, em Viena, a derrota por 1-0, com um golo do holandês Frank Rijkaard, deixou o sueco irritado, não pelo desaire frente a uma equipa “enormemente favorita”, mas sim pelo facto de ter “estado tão perto”.

Guerra é guerra

Na pré-época seguinte, o Benfica visitou Angola e Moçambique, onde, em Maputo, Eriksson comprovou a verdadeira importância de Eusébio, que, para contrariar a vontade de Fernando Martins, escolheu para treinador de guarda-redes.

“Quando o autocarro parou, as portas se abriram e Eusébio saiu, fez‑se silêncio. Do alto das escadas, Eusébio ergueu a mão em saudação. Um rapazinho chegou‑se à frente, talvez tivesse 12 anos. Aproximou‑se devagar de Eusébio e tocou‑lhe na mão. E, de repente, a populaça entrou em erupção. Era como se ninguém acreditasse que o verdadeiro Eusébio estava ali e o rapazinho, ao tocar‑lhe, o fizesse real. Nunca vi nada assim. Nunca pensei como Eusébio era tão grande em África”, descreveu.

Dessa temporada, Eriksson lembrou uma visita conturbada ao Porto, onde os “dragões” só abriram os balneários uma hora antes do “clássico”, o que levou a uma troca de palavras entre o sueco e o presidente dos “azuis e brancos”.

“Pinto da Costa, o presidente do FC Porto e o homem mais poderoso do futebol português, apareceu, avisando que, segundo os regulamentos, só eram obrigados a abrir os balneários uma hora antes do jogo. “Respeito‑o muito sr. Eriksson”, disse‑me, “mas guerra é guerra”.

O técnico sueco acrescentou: “Quando abriram a cabina, descobrimos que tinha sido pulverizada com qualquer espécie de químico que não nos deixava respirar. Os nossos jogadores tiveram de se equipar nos corredores”.

Apesar disso, o Benfica venceu no Estádio das Antas, por 2-0, com dois golos de César Brito – para Eriksson “um jogador periférico”, do qual nunca mais ouviu –, e praticamente assegurou a conquista do título de campeão. A época seguinte, segundo o sueco, “transformou‑se num pesadelo” e ditou a sua saída no final da mesma.

Ao longo das mais de 300 páginas da sua biografia, Eriksson recorda vários episódios da sua carreira, como a chegada ao Benfica, em 1982, como aposta do então presidente Fernando Martins: “A opção do presidente por um sueco de 34 anos para treinador não fora muito bem vista pela direção. Durante uma longa reunião, aquilo a que os portugueses chamam assembleia, muitos dos dirigentes mostraram‑se contra a minha contratação. Finalmente, Fernando Martins fingiu um problema cardíaco e foi retirado de ambulância. Aparentemente, houve 18 dirigentes que se demitiram em desacordo”.

Futebol 365

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