É possível “enganar” o coração e apagar os danos causados por um ataque cardíaco

Fobroblastos isolados do tecido cardíaco de um adulto

Após um ataque cardíaco, o coração não é capaz de se regenerar.  Mas um novo estudo promete agora recuar na linha do tempo e regenerar o coração para um estado normal — como se o ataque cardíaco não tivesse, simplesmente, acontecido.

O coração é a bomba que nos mantêm vivos. É responsável por levar oxigénio a todos os órgãos do nosso corpo e é o núcleo central do organismo.

Contudo, apesar de ser responsável por manter a homeostasia do nosso sistema, esta bomba de oxigénio não é capaz de reparar- se a si própria. Em boas palavras, “o coração sabe olhar pelos outros, mas não é capaz de cuidar de si.”

Após um ataque cardíaco, o coração não é capaz de se regenerar. Tal acontece devido ao acúmulo de tecido cicatricial que ocorre durante um enfarte do miocárdio.

O excesso de tecido cicatricial compromete a flexibilidade do órgão e impede-o de realizar as suas funções tal como outrora. Por outras palavras, o coração não volta a ser o mesmo depois de um ataque cardíaco.

Nos Estados Unidos, alguém tem um ataque cardíaco a cada 40 segundos. Segundo dados da Sociedade Americana de Bioquímica e Biologia Molecular, são mais de 2000 pessoas por dia a sofrer um evento cardiovascular grave, que pode comprometer a sua vida para sempre.

É, por isso, fundamental procurar estratégias que permitam não só prevenir doenças cardiovasculares, mas também minimizar os danos causados por estas.

E eis que, um grupo de investigadores da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, procurou chegar mais longe. Na sua investigação, estudaram a possibilidade de transformar tecido cicatricial rígido em tecido saudável, de modo a reverter os danos causados por um ataque cardíaco.

Um estudo ambicioso, publicado no Journal of Biological Chemistry, promete agora recuar na linha do tempo e regenerar o coração para um estado normal – como se o ataque cardíaco não tivesse, simplesmente, acontecido.

Nesta investigação, analisaram fibroblastos, células envolvidas na formação de tecido cicatricial. Após um ataque cardíaco, o tecido cicatricial fica mais rígido e perde flexibilidade.

Para reverter esta perda de flexibilidade, os investigadores utilizaram uma técnica designada por Reprogramação Celular, de modo a converter os fibroblastos em tecido cardíaco saudável. Contudo, a ciência pode ser surpreendente e nem sempre uma investigação segue a linha esperada.

Os investigadores descobriram que os fibroblastos adultos eram resistentes à Reprogramação Celular, ao contrário de fibroblastos jovens. A diferença entre ambos estava numa proteína designada por Epas1, que impede os fibroblastos adultos de seguir as instruções da Reprogramação Celular.

Porém, a solução foi mais simples do que se possa pensar. Através da inibição da Epas1 em células adultas, foi possível “enganar” os fibroblastos e fazê-los acreditar que eram bem mais jovens e saudáveis do que aquilo que realmente eram.

“Quando revertemos o processo de envelhecimento dos fibroblastos, essencialmente fazendo-os pensar que eram jovens novamente, convertemos mais fibroblastos em músculo cardíaco”, disse Conrad Hodgkinson, Professor Associado de Medicina e Patologia da DU School of Medicine.

Com a proteínas Epas1 inibida, a Reprogramação Celular em ratinhos vítimas de ataque cardíaco foi bem sucedida. “Conseguimos recuperar quase toda a função cardíaca perdida após um ataque cardíaco, revertendo o envelhecimento dos fibroblastos no coração”, disse Hodgkinson.

Esta técnica promissora implica a utilização de RNA, envolto em exossomas, que são enviados para as células afetadas.

O RNA contém as instruções necessárias para realizar a Reprogramação Celular e os exossomas são nada mais do que “sacos de compras” responsáveis por levar as instruções até aos fibroblastos.

Uma vez que esta investigação permitiu reverter o efeito do envelhecimento em algumas células, os investigadores admitem que esta técnica pode ter um elevado impacto noutras áreas da medicina, como na regeneração de neurónios no cérebro ou na reversão de cicatrizes na pele.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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