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Embrióides humanos já podem ser produzidos em massa

Yi Zheng / University of Michigan

Investigadores criaram uma forma de produzir um grande número de entidades vivas que se parecem com embriões humanos primitivos. Isto permite que os cientistas estudem de melhor forma os primeiros dias do desenvolvimento embrionário humano.

A capacidade de artificialmente produzir embrióides humanos é algo que divide a comunidade científica. Por um lado, permite aos investigadores estudar melhor o desenvolvimento embrionário dos humanos, que pode levar a avanços científicos significantes. Por outro lado, há sempre uma questão ética, devido à criação artificial de vida.

Se a ideia já era controversa quando eram criados embriões artificiais em pequena escala, imagine-se agora que os cientistas já são capazes de os produzir em massa.

“Este novo sistema permite-nos alcançar uma eficiência superior para gerar essas estruturas semelhantes a embriões humanos”, explicou o autor da investigação, Jianping Fu. Os resultados do estudo foram publicados este mês na revista científica Nature.

O dispositivo criado é um quadrado fino de silicone, onde são usadas células estaminais e produtos químicos que estimulam essas células a desenvolver estruturas-chave dos embriões humanos. Cada um destes dispositivos consegue produzir uma dúzia de embrióides em apenas poucos dias.

(dr) Yi Zheng / University of Michigan

O dispositivo criado pela equipa de investigadores da Universidade do Michigan.

Enquanto uns olham para esta inovação com uma preocupação ética, outros olham com entusiasmo graças a possíveis avanços no conhecimento científico. Fu, citado pela NPR, diz que este é “um novo marco empolgante neste campo emergente” e que “tais estruturas de embriões humanos têm muito potencial para abrir o que chamamos de caixa negra do desenvolvimento humano”.

Se em situação normal, o embrião está dentro do corpo humano e, por isso, torna-se difícil estudá-lo, neste caso a situação é significativamente facilitada. Há, contudo, uma limitação: uma diretriz que impede os cientistas de realizarem investigações em embriões além de 14 dias de desenvolvimento.

Fu explica que a capacidade de produzir embrióides em larga escala não está abrangida por esta diretriz e que, por isso, torna a tarefa mais fácil para os cientistas. Novas investigações podem reduzir ou até prevenir defeitos de nascimento e abortos. “Esta investigação pode levar a muitas coisas boas”, reiterou o cientista.

Ainda assim, lado a lado com o progresso científico, vão estar sempre as questões éticas, como explica o bioeticista de Harvard, Insoo Hyun: “Esta equipa precisa de ter muito cuidado para não modelar todos os aspetos do embrião humano em desenvolvimento, para que eles possam evitar a preocupação de que esse modelo de embrião possa um dia tornar-se um bebé se o colocarmos no útero”.

Por essa mesma razão, Fu produz os embrióides para apenas se assemelharem parcialmente a um embrião humano. “Entendo que pode haver pessoas sensíveis quando você vê que é possível produzir em massa estruturas embrionárias. As pessoas vão ficar preocupadas. Eu percebo isso. Acho que estamos a alargar os horizontes“, disse Fu.

“Mas quero deixar 100% claro que não temos a intenção de tentar gerar uma estrutura sintética parecida a um embrião humano completo. Não temos intenção de fazer isso“, reiterou.

ZAP //

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