Embaixador da China em França não reconhece soberania dos países da antiga União Soviética

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SCMP / Twitter

Lu Shaye, embaixador da China em França

França e países bálticos manifestam-se “consternados” com as declarações do embaixador chinês em Paris, nas quais questiona a soberania da Ucrânia e dos países da ex-URSS, assim como o estatuto da Crimeia.

Questionado esta sexta-feira sobre a guerra na Ucrânia, no canal de televisão LCI, o embaixador da China em França, Lu Shaye, afirmou que “os países da ex-União Soviética não têm um estatuto efectivo na lei internacional porque não há acordo internacional para concretizar o seu estatuto como país soberano“.

Após o colapso da antiga União Soviética, em 1991, quinze países declararam a sua independência.

Sobre a Crimeia, península ucraniana desde 1954 anexada em 2014 por Moscovo, o diplomata acrescentou que “depende de como se encara este problema“.

“Há a história. A Crimeia era antes de mais da Rússia. Foi Nikita Krouchtchev quem ofereceu a Crimeia à Ucrânia no tempo da União Soviética”, considerou o embaixador chinês.

Lu Shaye acrescenta que “não vale a pena discutir este tipo de problema” e que “o mais importante é acordar o cessar-fogo” no conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Em reacção às declarações do embaixador, um porta-voz da diplomacia francesa declarou este sábado ter tomado conhecimento “com consternação” dos comentários de Lu Shaye. “Cabe à China dizer se essas observações reflectem a sua posição, e esperamos que não seja o caso”.

“Assinalamos a nossa total solidariedade com todos os nossos aliados e parceiros que adquiriram a independência tão esperada após décadas de opressão”, notou o diplomata, sublinhando que “a Ucrânia foi reconhecida em 1991, com fronteiras que incluíam a Crimeia, por toda a comunidade internacional — incluindo a China“.

No Twitter, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, Margus Tsahkna, afirmou que as declarações do embaixador chinês “são falsas e um contrasenso histórico”.

“De acordo com o direito internacional, os países bálticos são soberanos desde 1918, mas foram ocupados durante 50 anos”, acrescentou Tsahkna.

Também o chefe da diplomacia da Letónia, Edgars Rinkevics, lamentou declarações que classificou como “totalmente inaceitáveis” e pediu à China para as retirar.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, afirmou por sua vez no Twitter que “se alguém ainda tem dúvidas sobre porque é que os países bálticos não confiam na China para ‘negociar a paz na Ucrânia’, aqui está um embaixador chinês a dizer que a Crimeia é russa e que as fronteiras dos nossos países não têm estatuto legal”.

Divisões administrativas da antiga União Soviética, 1989

Após a queda da União Soviética, os 15 países que faziam parte do bloco soviético declararam independência: Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estónia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letónia, Lituânia, Moldávia, Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Usbequistão, e a própria Rússia.

China “respeita estatuto de Estado Soberano”

Três dias depois das declarações do embaixador Lu Shaye, a China reagiu esta  segunda-feira, afirmando que respeita o “estatuto de Estado soberano” dos países da ex-União Soviética.

A China respeita o status de Estado soberano das repúblicas nascidas depois da dissolução da URSS no fim de 1991″, declarou a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Mao Ning, citado pela Agência AFP.

“A China respeita a soberania, a independência e a integridade territorial de todos os países e apoia os objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas“, acrescentou Mao.

Embora Pequim mantenha oficialmente uma posição de neutralidade no conflito, o presidente chinês, Xi Jinping, nunca condenou a invasão russa da Ucrânia.

ZAP // RFI

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