Nova Iorque enfrenta uma epidemia inédita de heroína e drogas similares que todos os dias mata três pessoas de overdose. A situação reflete uma crise que se alastra rapidamente pelo país mais rico do mundo: mais de 1 milhão de americanos já são dependentes deste tipo de droga, a principal causa de morte de homens e mulheres com menos de 50 anos no ano passado.
Numa tentativa ousada de reverter o aumento de 46% nas mortes por overdose registado entre 2015 e 2016, o governo local decidiu convocar a população a agir, espalhando milhares de cartazes em inglês e espanhol por carruagens de metro, onde se lê “Salve uma vida“.
Segundo a BBC, a autarquia pede que moradores tenham na mala doses do fármaco que reverte os efeitos de uma overdose. Para isso, o governo local conta histórias como a de Evelyn.
“Naquele dia fui por um caminho diferente para voltar para casa. Era tarde e encontrei um homem no chão. Estava azul e não respirava. Vi que éramos vizinhos”, conta a mulher de 58 anos. “Por sorte, eu tinha o fármaco na bolsa: dei-lhe a injeção e não demorou dois minutos até ele voltar a respirar.”
“Sinto-me satisfeita”, completa Evelyn, com a voz embargada. “Se eu tivesse feito o caminho de sempre, hoje o senhor estaria morto.”
Evelyn nunca usou drogas. Mas, como outras tantas pessoas, não deixou de ter a vida afetada por elas. “Eu era criança, em 1960, quando a minha mãe recebeu um telefonema a dizer que o corpo do nosso primo tinha sido encontrado num prédio abandonado, três dias depois de morrer por overdose”, conta Evelyn. “Desde que o fármaco está disponível, trago-o sempre comigo.”
O fármaco em questão é a naloxona – uma substância de efeito rápido que anula os efeitos da overdose por drogas derivadas do ópio.
Graças a acordos da autarquia, a medicação – em seringas ou aplicação nasal – passou a ser vendida em mais de 700 farmácias sem precisar de receita médica, além de ser distribuída gratuitamente em vários pontos da cidade.
O objetivo é que todos os cidadãos nova-iorquinos estejam preparados para aplicar a medicação, caso encontrem alguém em overdose pelo caminho.
O programa de redução das mortes por heroína em Nova Iorque também inclui uma linha telefónica para aconselhamento em 200 idiomas, disponível 24 horas por dia, e tem um investimento anual de cerca de 33 milhões de euros.
A disponibilização do medicamento e de cursos gratuitos para identificação dos sinais de overdose e procedimentos para aplicar o fámaco, segundo o governo local, pretende reduzir os riscos a que os toxicodependentes estão expostos, além de aproximar os aproximar de pessoas que não usam drogas na luta pela redução de mortes por overdose.
“A cada 7 horas morre um nova-iorquino de overdose. Nós sabemos que podem ser prevenidas, e um dos caminhos é recrutar as pessoas”, disse a médica Hillary Kunins, uma das responsáveis pela campanha na Secretaria de Abuso de Álcool e Drogas da cidade.
Questionada sobre uma possível resistência da população, a especialista nega que os nova-iorquinos sejam individualistas e diz que há um “sentido de comunidade forte” entre eles. “Queremos encorajar as pessoas a sentirem empatia e tomarem iniciativa”, afirma Kunins. “Qualquer indivíduo em Nova York pode salvar vidas”.
Com o rosto e a história estampada em carruagens de comboios e pela internet, Evelyn tornou-se uma das seis protagonistas da campanha, que apela a moradores para andarem prevenidas quando encontrarem pessoas em overdose – mesmo se não tiverem relação próxima com os toxicodependentes.
Billy, morador de Manhattan, conta na campanha que salvou uma mulher às 2h da manhã com uma injeção de naloxona. Já o militar Brian, morador do Queens, diz que encontrou o pai caído da cama e sem respirar após o uso de drogas.
“Depois de alguns minutos, voltou a respirar e decidiu deixar a droga. Foi um momento decisivo para os dois.”
Os protagonistas – homens, mulheres, brancos, negros e latinos – refletem a incidência da epidemia. Segundo o governo, as mortes já se espalham por todos os bairros de Nova Iorque e envolvem diferentes grupos étnicos – em 2016, a taxa absoluta de overdose foi ligeiramente maior entre nova-iorquinos brancos, do sexo masculino.
Se nos USA vendem armas ao desbarato a qualquer pessoa para que se possam matar uns aos outros pois estas não servem para mais nada e se são milhares que morrem vítimas da brutalidade alheia e pelos vistos a maioria da população entende que assim é que está bem por que razão há-de um indivíduo andar com uma seringa no bolso para tentar salvar naquele momento alguém que já está perdido para a vida e que possivelmente será um perigo e uma despesa para a sociedade?