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Em 1973, um computador do MIT previu o fim da civilização. Está a chegar

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O World One, programa desenvolvido por investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)  previa, há 50 anos, o fim da nossa civilização… em 2040. Será que as suas previsões são de facto alarmantes ou apenas infundadas?

Em 1973, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveu um programa de computador com o objetivo de modelar a sustentabilidade global e avaliar o impacto dos humanos no planeta.

Mas o programa foi além do que lhe foi pedido e acabaria por ‘agendar’ o fim da nossa civilização… para 2040.

Pode estar a pensar neste momento na enorme quantidade de previsões apocalípticas que já lhe foram atiradas à cara durante séculos, mas que nunca se concretizaram. Que valor têm tais blasfémias?

No entanto, as ‘visões’ deste computador têm-se, de certa forma, concretizado.

As primeiras previsões

O World One, que se tornou viral na transmissão de 9 de novembro de 1973 da ABC, é descrito como “uma visita guiada eletrónica do nosso comportamento global desde 1900 e de onde esse comportamento nos vai levar”.

Para chegar às suas conclusões apocalípticas, o programa teve em conta fatores como os padrões nos níveis de poluição, crescimento populacional, a quantidade de recursos naturais e a qualidade geral da vida no planeta Terra.

O programa — processado pelo maior computador australiano da época — foi capaz de produzir gráficos que mostravam o que aconteceria ao planeta no futuro, traçando estatísticas e previsões seguindo os padrões destes principais fatores.

As previsões, apresentadas em simplificados gráficos partindo do ano 1900 até 2060, mostraram inicialmente um ‘boom‘ da população mundial.

Evidenciaram, também, uma ‘Q curve’, indicadora da qualidade de vida da população. Esta demonstra um grande aumento até 1940, altura em que começa a cair quase até ao ponto de 1900, onde começou.

Outra curva mostrou a lenta, mas progressiva diminuição dos recursos naturais, consequência do aumento da população.

Já a curva da poluição mostrou que, a partir de 1980, os níveis de poluição aumentariam drasticamente.

2020 – O início do fim

Uma das previsões mais importantes é relativa ao ano de 2020 e apontou para uma queda dramática da qualidade de vida nesse ano – um cenário que iria levar à morte de grandes números de pessoas.

Se esta visão lhe parece familiar, saiba que não é a sua mente a pregar-lhe partidas: 2020 foi o primeiro ano de pandemia global da Covid-19.

“Por volta de 2020, a condição do planeta torna-se altamente crítica. Se não fizermos nada quanto a isso, a qualidade de vida vai descer até ao zero. A poluição torna-se tão séria que vai começar a matar pessoas, o que por sua vez vai fazer com que a população diminua mais que em 1900. Nesta fase, por volta de 2040 a 2050, a vida civilizada como a conhecemos vai deixar de existir”, ouve-se na emissão da ABC.

O World One previu que iria haver um colapso global em 2040 caso a expansão da população e das indústrias continuasse aos níveis da época. Um colapso que ditaria o fim da civilização humana.

Será que o nosso mundo só aguenta mais 17 anos com os níveis de poluição atuais?

Tudo está presente no livro “Limites ao Crescimento”, obra baseada no relatório do World One e publicada pelo Clube de Roma em 1972, que desafiava a ideia de que os recursos da Terra são infinitos.

Como impedir o juízo final

O polémico programa foi um pedido do Clube de Roma, “plataforma” formada por pensadores, ex-líderes de estado, cientistas e burocratas das Nações Unidas criada para “abordar as múltiplas crises que a humanidade e o planeta enfrentam”.

Seria Jay Forrester, engenheiro de computação, cientista de sistemas e um dos criadores da memória de núcleo magnético — a RAM dos computadores da década de 1950, quem acabaria por conduzir o estudo.

O Clube de Roma previu que as grandes nações mundiais teriam de travar o uso e abuso de recursos naturais, nomeadamente os EUA que, segundo a ABC, consumia na época 60% dos recursos naturais do mundo.

Quando questionado se os governos teriam de ter mais controlo do que as empresas privadas e a exploração que estas exercem sobre os recursos naturais, o líder do Clube de Roma, Alexander King, valorizou a influência do mercado na resolução os problemas em causa.

“Nacionalização simples e coisas do género não ajudariam de todo porque temos que manter uma abordagem de incentivo. Muitos dos bons aspetos da iniciativa privada são necessários aqui, mas não na velha maneira exploradora em que as forças do mercado dominam a situação toda”.

Previsões alarmantes ou infundadas?

As previsões do World One são, sem dúvida, alarmantes. Mas afinal, ainda se sustentam?

Em 1999, a ABC voltou — acompanhada de Keith Suter, membro do clube — para rever o polémico relatório. A verdade é que a maioria das previsões apontavam para cenários económicos catastróficos no início dos anos 90, coisa que não aconteceu.

A ABC confessa que o estudo apresentava “algumas limitações óbvias”, nomeadamente relacionadas com o uso da modelação computacional.

“Esta foi a primeira vez que a modelação computacional foi usada para um exercício tão ambicioso. O sucesso dessa modelação depende da qualidade da informação e das capacidades do computador. Em 1970, os métodos de coletânea de dados eram ainda rudimentares“, lê-se na revisão do estudo, que reconhece a falta de informação necessária para construir modelos mais precisos.

“Muitos países, por exemplo, não sabiam as verdadeiras dimensões das suas populações. Houve muitas melhorias na coletânea de dados nacionais mas, ainda hoje [1999] estamos longe de ter os dados necessários para produzir modelos mais eficazes.”

Além disso, o computador usado para construir o modelo era limitado tecnologicamente, fazendo com que o número de equações usado para construir as ‘adivinhações’ fosse pobre.

De qualquer forma, a previsão dos investigadores do MIT chocou de frente com o otimismo geral da época, consequente de duas décadas anteriores recheadas de crescimento económico no mundo ocidental e oriental. Ao mesmo tempo, as consequências ambientais de um crescimento da economia iam sendo esquecidas e foram, desta forma, lembradas.

Tomás Guimarães, ZAP //

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