Ellai vive numa caverna na Ilha de Socotra. É um eremita com um “coração como o mar”

rod_waddington / Flickr

Ilha de Socotra, no Iémen

Pesca à mão, vive sozinho numa caverna e é um testemunho vivo da forma como os residentes de outrora viveram na ilha de Socotra, no Iémen.

Socotra é um dos fragmentos continentais mais isolados da Terra – um pedaço de África à deriva no mar. O arquipélago contém uma riqueza única, uma vez que não é possível encontrar em mais lado nenhum mais de um terço das suas 825 espécies vegetais e 90% das suas espécies de répteis.

Ellai vive numa caverna, apesar de estar a uma distância de apenas dois quilómetros da cidade de Qalansiyah. De acordo com uma reportagem da BBC, é uma espécie de testemunho vivo da forma como os antigos Socotri subsistiam nesta ilha longínqua.

O primeiro hospital de Socotra abriu em 2012, pelo que não existem registos oficiais do seu nascimento. Não sabe a idade exata, desconfia ter cerca de 60 anos.

Teve 12 filhos, mas só seis sobreviveram devido à subnutrição e à falta de cuidados de saúde e vacinas. Atualmente, vivem com a sua mulher no conforto relativo de Qalansiyah, enquanto Ellai passa a maior parte do tempo na caverna, pescando diariamente para sustentar a família.

À entrada estão dispostas, na vertical, costelas de cachalote. Ellai contou à BBC que, há muito tempo, um cadáver do animal marinho foi levado até terra pelas autoridades, que ansiavam encontrar o precioso âmbar-cinzento dos intestinos dos cachalotes, muito utilizado em perfumes.

Sem sorte, acabaram por deixá-lo a decompor-se perto da caverna de Ellai.

“Tive de olhar [para o cadáver] todos os dias. Após alguns meses, extraí algumas partes do esqueleto [para decorar a entrada da minha caverna] quando, por acaso, encontrei âmbar-cinzento escondido atrás da mandíbula. Vendi por uma pequena fortuna! Chamam-lhe “ouro flutuante””, disse.

O dinheiro permitiu-lhe comprar uma pequena casa em Qalansiyah para a sua família mas, como o seu “coração é como o mar”, preferiu continuar a habitar a caverna. “Por vezes é tempestuoso. Às vezes é calmo… Para mim, esta caverna é a minha alma, a minha fonte de vida. Adoro ouvir o oceano”, confessou.

Ao longo dos seus 60 anos, a sua vida não mudou muito. A única coisa de diferente é que, agora, tem um telemóvel “à moda antiga” e o luxo de ter água engarrafada.

ZAP //

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