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Os elefantes asiáticos são os reis da matemática na selva

Mesmo sem o uso da linguagem, existem muitos animais com habilidade para contar mas, de todas as espécies não-humanas, o elefante asiático destaca-se.

Numa nova pesquisa, investigadores descobriram que os elefantes asiáticos são excecionais a contar números, algo que fazem como nenhum outro no reino animal.

Ao contrário de outras espécies, que tendem a basear a contagem de números em quantidades imprecisas em vez de números absolutos, o elefante asiático parece ser o animal com a compreensão numérica mais aproximada dos humanos, segundo o estudo publicado a 22 de outubro no Jornal de Etologia.

Naoko Irie, especialista em cognição numérica na Universidade de Estudos Avançados no Japão afirma que “este estudo fornece a primeira evidência experimental de que os animais não humanos têm características cognitivas parcialmente idênticas à contagem humana”.

No estudo, três elefantes foram escolhidos mas apenas um deles, uma fêmea de 14 anos chamada Authai, conseguiu passar nas sessões de treino realizadas pelos cientistas.

O teste

Nos treinos, Authai aprendeu a usar um painel sensível ao toque da sua tromba para escolher imagens que surgiam no ecrã – o objetivo era descobrir se os elefantes asiáticos poderiam julgar quantidades relativas.

Em cada ronda de testes, Authai visualizava duas imagens para as comparar, cada uma contendo diferentes quantidades de fruta, entre zero a dez e o elefante fêmea tinha de selecionar a caixa com mais fruta – a cada vez que Authai fazia a comparação correta, era recompensada com um pequeno pedaço de fruta.

Para garantir que o elefante não estava a escolher as imagens que se apresentavam mais cheias, em vez da imagem com maior número de frutas, as ilustrações mostradas variavam em tamanho.

Durante o teste, o guardião de Authai foi obrigado a ficar a 3 metros de distância, de costas para o painel de toque para não revelar qualquer sinal não intencional ao elefante.

No final do teste, entre 271 imagens, Authai identificou corretamente 181 imagens com maior número de frutas – aproximadamente 67% o que indica aos investigadores que o resultado não é por acaso.

Resultados

O desempenho matemático de Authai não foi afetado pela magnitude da fruta, pela distância entre os frutos individuais ou pela proporção de frutas entre as duas imagens.

Semelhante aos humanos, o tempo de reação de Authai diminuiu um pouco quando a distância entre as frutas foi diminuída ou a razão entre as imagens foi aumentada – muito provavelmente porque eram comparações mais difíceis de resolver que exigiam mais tempo de análise.

Estes resultados são consistentes com a contagem humana.

“Descobrimos que o seu desempenho não foi afetado pela distância, magnitude ou as proporções das numerosidades apresentadas mas, consistente com as observações da contagem humana, ela precisou de um tempo maior para responder a comparações com distâncias menores”, explicou Naoko Irie.

Até ao momento, o elefante asiático é a única espécie animal, além dos humanos, que consegue analisar a quantidade relativa – nem mesmo as duas espécies de elefantes africanos demonstraram essa proeza matemática.

Naoko Irie disse ainda que a razão poderá ser porque as espécies de elefantes africanos divergiram do elefante asiático há mais de 7,6 milhões de anos.

Dentro desse período de tempo, é provável, segundo Irie, que cada uma das espécies tenha desenvolvido habilidades cognitivas diferentes mas, para essa conclusão, mais investigações são necessárias – um exemplo não é suficiente para fazer uma declaração abrangente sobre espécies inteiras, embora esta investigação seja uma descoberta bastante entusiasmante.

Afonso Guedes, ZAP // Science Alert

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