El Niño bate à porta (e pode trazer temperaturas nunca vistas)

A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou hoje para a probabilidade de o fenómeno climático El Niño se formar este ano, elevando as temperaturas a novos recordes.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada da ONU, estima que haja 60% de hipóteses de o El Niño se formar até o final de julho, e 80% até o final de setembro.

O El Niño é um fenómeno climático natural geralmente associado ao aumento das temperaturas e da seca, em algumas partes do mundo, e às fortes chuvas, noutras.

A última vez que aconteceu foi entre 2018 e 2019, e deu lugar a um episódio particularmente longo – La Niña -, que causa efeitos opostos e, em particular, uma queda nas temperaturas.

Apesar desse efeito moderador, os últimos oito anos foram os mais quentes alguma vez registados.

Um estudo publicado em abril na Earth System Science Data (ESSD), revelou que, nos últimos 15 anos, a Terra acumulou quase tanto calor como nos 45 anos anteriores, e que a maior parte do excedente de calor está a ir para os oceanos.

Isso traz consequências: desde meados de março que a temperatura média global da superfície do mar é superior a 21ºC, o valor mais alto desde o início dos registros de satélite.

“O calor no sistema climático nos últimos 15 anos duplicou. Não quero dizer que seja uma mudança climática, ou variabilidade natural ou uma mistura de ambos, ainda não sabemos, mas já se vê essa mudança”, disse Karina Von Schuckmann, principal autora do estudo e oceanógrafa do grupo de pesquisa Mercator Ocean International.

Josef Ludescher, cientista de sistemas terrestres do Instituto Potsdam de Pesquisas Climáticas, disse à BBC que “se um novo El Niño acontecer, provavelmente teremos um aquecimento global adicional de 0,2 a 0,25°C”.

Ao The Conversation, a oceanógrafa Moninya Roughan explica que o calor provocado pelo El Niño levaria algumas áreas do planeta a passar os 1,5°C de aquecimento, pela primeira vez. Em sentido contrário, Roughan acredita estar a haver um abrandamento do La Niña – que, nos últimos anos, tinha vindo a mitigar os efeitos do calor.

Contudo, sem o La Niña, a situação do aquecimento poderia ter sido ainda pior: “atuou como um travão temporário no aumento da temperatura global”, disse secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em comunicado.

“O desenvolvimento do El Niño provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará as hipóteses de se baterem recordes de temperatura”, alertou.

A OMM indicou que 2016 foi “o ano mais quente já registado, devido ao `duplo efeito` de um El Niño muito forte e ao aquecimento causado por gases de efeito estufa, ligados à atividade humana”.

Os efeitos do El Niño nas temperaturas são geralmente sentidos no ano seguinte ao surgimento do fenómeno meteorológico, pelo que o seu impacto provavelmente será mais sentido em 2024, sublinha a OMM.

“O mundo deve preparar-se”, alertou Petteri Taalas, destacando ainda a necessidade de estabelecer sistemas de alerta precoce – uma das prioridades da OMM – para proteger as populações mais ameaçadas.

Não há dois El Niño iguais e os seus efeitos dependem, em parte, da época do ano, disse a OMM, acrescentando que tanto a organização como os serviços meteorológicos nacionais monitorizarão de perto a situação.

O fenómeno ocorre em média a cada dois a sete anos e costuma durar de nove a 12 meses.

É geralmente associado ao aquecimento das temperaturas da superfície do oceano no Oceano Pacífico tropical central e oriental.

O El Niño geralmente causa aumento da precipitação em partes do sul da América do Sul, no sul dos Estados Unidos, Corno da África e Ásia Central e pode causar secas severas e incêndios na Austrália, Indonésia e partes do sul da Ásia.

ZAP // Lusa

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