Um grupo de cientistas anunciou, esta quinta-feira, a deteção inédita de ondas gravitacionais, fenómeno que foi previsto por Albert Einstein e que só agora foi demonstrado.
Os cientistas observaram uma distorção no tecido espaço-tempo gerada pela fusão de dois buracos negros a mais de mil milhões de anos-luz da Terra.
A descoberta foi anunciada por David Reitze, investigador do departamento de Física da Universidade da Flórida, nos EUA, e diretor executivo do projeto, numa conferência de imprensa em Washington DC.
A equipa que fez a descoberta – que será publicada na Physical Review Letters – afirma que esta primeira deteção das ondas gravitacionais significa a entrada numa nova era na Astronomia, um avanço científico que está a ser recebido com uma das descobertas do século.
Trata-se do culminar de um século de especulação, 50 anos de tentativas para as descobrir e 25 anos a aperfeiçoar instrumentos de medição tão sensíveis que conseguem, finalmente, identificar uma distorção no tecido espaço-tempo com a dimensão de um milésimo do diâmetro do núcleo de um átomo.
A investigação foi feita por cientistas que fizeram parte da LIGO Collaboration (Advanced Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory), uma experiência internacional de longa data que opera em laboratórios onde são disparados feixes de lasers através túneis muito longos, para tentar medir estas minúsculas ondulações no tecido do espaço-tempo.
Os dois detetores do LIGO, que ficam em extremos opostos dos EUA, captaram a 14 de setembro de 2015 quase que simultaneamente ondas que correspondiam à previsão do que seriam as ondas gravitacionais.
Karsten Danzmann, investigador do Instituto Max Planck para a Física Gravitacional e da Universidade de Leibniz em Hannover, na Alemanha, afirmou à BBC que esta deteção é um dos desenvolvimentos mais importantes da Ciência desde a descoberta do bosão de Higgs, e tão importante como determinar a estrutura do ADN.
“Merece um prémio Nobel, sem dúvida”, afirmou à BBC o líder europeu da LIGO Collaboration.
“É a primeira deteção direta de sempre de buracos negros e é uma confirmação da Teoria da Relatividade Geral porque as propriedades destes buracos negros estão de acordo com o que Einstein previu há 100 anos”, explicou o cientista.
Também Stephen Hawking, um dos mais célebres físicos do mundo e especialista em buracos negros, assegura tratar-se de um momento histórico para a Ciência.
“As ondas gravitacionais fornecem uma forma completamente nova de olhar o Universo. A capacidade de detectá-las tem o potencial de revolucionar a Astronomia. Esta descoberta é a primeira deteção de um sistema binário de buracos negros e a primeira observação de buracos negros em colisão”, afirmou à BBC.
“Além de provar a Relatividade Geral, esperamos ver buracos negros em várias fases da História do Universo. Podemos mesmo encontrar relíquias do Universo primitivo durante o Big Bang em algumas destas formas mais extremas possíveis de energia”.
“Gostaríamos de ter uma nova visão sobre o universo”, afirmou Lawrence Krauss, um cosmólogo da Universidade do Estado do Arizona, quando o rumor sobre a nova descoberta foi lançado, ainda em janeiro.
“As ondas gravitacionais são geradas nos mais exóticos lugares na Natureza, como na borda de buracos negros. Temos a certeza de que existem, mas não temos sido capazes de utilizá-las para sondar o universo”.
Com o tempo, poderemos vir a utilizar as ondas gravitacionais para vencer a gravidade e deslocarmo-nos pelo ar sem precisar de aviões. Utópico? Quem é que há 200 anos imaginava o atual controle sobre as ondas eletromagnéticas? Vejam o meu livro “Convicções e Ceticismos”, Editora Luz da Vida, Lda, 2014