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O “efeito Mona Lisa” nem sequer existe no quadro que lhe deu nome

Musée du Louvre / Wikimedia

Mona Lisa, por Leonardo Da Vinci

Em ciência, o “efeito Mona Lisa” refere-se à impressão de que os olhos da pessoa retratada numa imagem parecem seguir o espetador em movimento.

Dois investigadores do Cluster of Excellence CITEC da Universidade de Bielefeld demonstram que, ironicamente, este efeito não ocorre na mundialmente famosa pintura de Leonardo da Vinci, “Mona Lisa” – desmentindo uma lenda científica. Os cientistas apresentaram os resultados na revista científica i-Perception.

“As pessoas são muito boas a avaliar se estão ou não a ser vistas por outras pessoas. A psicologia percetiva demonstrou isso nos anos 60”, disse Gernot Horstmann em comunicado. Horstmann é especialista em movimento e atenção ocular e membro do grupo de estudo em Psicologia Neuro-Cognitiva do Departamento de Psicologia.

“As pessoas podem sentir como se estivessem a ser vistas de ambas as fotografias e pinturas – se a pessoa retratada olha para frente e para fora da imagem, isto é, a um ângulo de observação de 0 graus”, explica Horstmann. “Com um olhar ligeiramente lateral, ainda se pode sentir como se estivesse a ser observado”.

“Curiosamente, não temos de estar na frente da imagem para ter a impressão de ser olhado – mesmo que a pessoa na imagem olhe para a frente”, referiu Sebastian Loth, da Faculdade de Tecnologia e do CITEC. “Esta impressão surge se nos posicionarmos à esquerda ou à direita e a diferentes distâncias da imagem. A sensação robusta de ser observado é precisamente o efeito da Mona Lisa.”

No estudo sobre comunicação com robôs, Loth repetidamente encontrou o termo “Efeito Mona Lisa”, cunhado após a famosa pintura a óleo do século XVI. “O efeito em si é inegável e demonstrável. Mas com a Mona Lisa não tivemos essa impressão.”

Para testar esta observação, Horstmann e Loth tiveram 24 participantes do estudo a olhar para a Mona Lisa na tela do computador e a avaliar a direção do seu olhar. Uma simples régua foi posicionada entre eles e a tela em várias distâncias. Os participantes indicaram onde o olhar de Mona Lisa encontrou a régua.

A fim de testar se as características individuais do rosto de Mona Lisa influenciaram a perceção do olhar dos espetadores, os investigadores usaram 15 secções diferentes do retrato – começando de toda a cabeça até os olhos e nariz. Cada imagem foi mostrada três vezes em ordem aleatória. Na metade da sessão, os investigadores também mudaram a distância da régua do monitor.

Horstmann e Loth reuniram mais de duas mil avaliações – e quase todas as medições indicaram que o olhar de Mona não é reto, mas sim para o lado direito do espetador.

O resultado: “Os participantes do nosso estudo tiveram a impressão de que o olhar de Mona Lisa estava voltado para o lado direito. Mais especificamente, o ângulo do olhar era de 15,4 graus em média“, disse Gernot Horstmann. “Assim, está claro que o termo efeito Mona Lisa não é nada além de um equívoco. Ilustra o forte desejo de ser olhado e ser o centro das atenções de outra pessoa”.

MC, ZAP //

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