Edgar Cardoso tinha uma “namorada, menina bonita”. Não é das suas obras mais famosas

Edgar Cardoso - Laboratório de Estruturas

Ponte de Mosteirô

O engenheiro, talvez o projectista de pontes português mais conhecido, faleceu no dia 5 de Julho de 2000.

Edgar António de Mesquita Cardoso. Ou Edgar Cardoso.

Um dos engenheiros mais conhecidos de sempre de Portugal, o homem das pontes, o projectista famoso.

Foi o “cérebro” de algumas das pontes mais famosas (e úteis) em Portugal, ao longo do século passado.

Ainda hoje, o engenheiro é descrito como um “visionário, alguém que via para lá do seu tempo”.

Edgar Cardoso morreu no dia 5 de Julho de 2000. Tinha 87 anos. Na quarta-feira passada assinalaram-se 23 anos desde o seu falecimento.

Foi momento para procurarmos nos arquivos alguns momentos mais importantes da sua vida.

Muitas pontes

A licenciatura decorreu no Porto, na FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Formado em engenharia civil, claro.

Mas foi em Lisboa que se tornou professor catedrático, no Instituto Superior Técnico.

Antes, foi engenheiro civil na Junta Autónoma das Estradas. Mas foi depois disso – saiu em 1951 – que surgiram as suas obras mais conhecidas.

A Norte recordamos logo a Ponte da Arrábida (a mais utilizada por automóveis entre Porto e Gaia) e a Ponte de São João (a única ligação para comboios na mesma região).

A Ponte da Arrábida era, na altura (1963), a ponte que tinha o maior arco de betão do mundo, com 270 metros. Mas já tinha havido uma espécie de ensaio para esse monumento, 11 anos antes – e não muito longe: a Ponte na Foz do Sousa, em Gondomar, com um arco de betão de 115 metros.

Diversas outras pontes são da sua autoria: Ponte de Santa Clara (Coimbra), da Figueira da Foz, de Barca d’Alva, a reconversão da Ponte Luís I, diversas em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Macau, Goa…

E também foi responsável pelo viaduto de Entrecampos ou pela ampliação do aeroporto do Funchal, entre alguns edifícios da Universidade de Coimbra.

A favorita

Mas, afinal, entre tanta obra feita, havia alguma preferida? Do próprio Edgar Cardoso?

Sim: a Ponte de Mosteirô.

Aristides Fernandes, desenhador e que foi amigo próximo do mestre, disse na RTP que essa ponte era a “menina bonita, a namorada” de Edgar Cardoso.

A Ponte de Mosteirô é mais uma ponte sobre o Rio Douro, esta entre Baião e Oliveira do Douro (Cinfães). Foi inaugurada em 1972.

É também uma ponta de betão armado pré-esforçado, de rótula aberta, losangular, tendo um vão central de 110 metros e dois vãos laterais de 42 metros cada.

Vitor Oliveira / Wikimedia

Ponte de Mosteirô

Foi construída onde estava outra ponte, uma construção metálica com três pilares, ainda do século XIX.

A ponte antiga já não estava em condições e Edgar Cardoso inutilizou um pilar (que está lá ao fundo, no Douro) e aproveitou os outros dois pilares.

“A albufeira subiu, fica realmente uma ponte linda, que de longe parece uma ponte metálica mas, de repente, é uma ponte de betão armado pré-esforçado”, descreveu Aristides.

E havia uma rotina significativa de Edgar Cardoso, ao passar por lá: “Sempre que nós passávamos ali, ele parava. Ele tirou centenas de fotografias. Apaixonou-se por aquela ponte”.

O relatório

Recuamos ao início da sua carreira: no dia 5 de Agosto de 1935, Edgar Cardoso recebe guia para realizar o seu primeiro estágio no Porto de Leixões, para o estudo do assoreamento do porto.

A introdução do seu relatório foi a seguinte: “Segundo instruções da nossa Faculdade de Engenharia a que pertenço como modesto aluno e vós Meus Mestres, como Professores altamente categorisados, recebi com agrado no dia 5 de Agosto a guia de apresentação para na Administração dos portos do Douro e Leixões efectuar o meu primeiro estágio”.

“Sem a experiência e o saber tão precisos ao Engenheiro, iniciei nesse mesmo dia o meu primeiro trabalho que, apesar da atenção e da boa vontade, sempre aplicada para a sua perfeita execução, terá fatalmente que ser defeituoso”.

“Peço portanto aos meus Exmos. Professores que me relevem os êrros cometidos, na certeza, porém, que a sua existência não é resultante da falta de assiduidade, nem da minha menos curiosidade de saber, mas antes da inexperiência e limitados conhecimentos do assunto que me foi dado estudar”, escreveu o então aspirante.

O relatório mereceu uma nota de 16 valores, indica a FEUP.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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