E. coli usa velho truque de guerra para matar vírus

NIAID

Bactérias E.coli

Descoberta pode transformar futuras abordagens na biotecnologia e na medicina. Novo sistema imunitário bacteriano é “engenhoso”.

Cientistas identificaram um novo sistema imunitário bacteriano que utiliza de forma engenhosa as próprias ferramentas do vírus contra o vírus.

Este sistema de defesa, denominado “Kongming” – em homenagem ao célebre estratega chinês Zhuge Liang – imita a antiga táctica militar de transformar as armas do inimigo em vantagens.

O sistema Kongming é ativado durante um ataque viral, quando a bactéria utiliza uma enzima trazida pelo próprio vírus, explica o Futurity.

Em vez de permitir que essa enzima replique o material genético viral, o sistema Kongming desvia-a para produzir um sinal químico que desencadeia uma sequência de autodestruição.

Esta espécie de sacrifício impede a propagação do vírus a outras células bacterianas — comparável a “explodir uma ponte” para travar um inimigo em avanço, como explica o Professor Auxiliar Rafael Pinilla-Redondo, um dos investigadores principais do estudo.

A enzima viral, normalmente usada para copiar o código genético, é manipulada pela bactéria para sintetizar dITP, uma molécula que ativa a resposta imunitária. Esta morte celular autoinduzida interrompe o progresso da infeção. Embora o estudo se tenha centrado na bactéria E. coli, foram identificados sistemas semelhantes noutras bactérias, sugerindo que defesas do tipo Kongming são generalizadas.

No entanto, os vírus não estão indefesos. Alguns evoluíram para transportar enzimas que desativam as moléculas essenciais à ativação do Kongming, neutralizando assim o sistema de defesa antes que este possa reagir.

Esta descoberta ganha especial relevância no atual contexto de crescente resistência aos antibióticos, um problema de saúde global cada vez mais preocupante.

A terapia fágica — o uso de vírus para atacar seletivamente bactérias nocivas — parece ser uma alternativa promissora.

Para além da saúde, o sistema Kongming também apresenta potencial na biotecnologia.

O sistema deteta especificamente o dITP — uma molécula associada a certas doenças humanas, incluindo o cancro — e poderá inspirar o desenvolvimento de novas ferramentas de diagnóstico e aplicações em biologia sintética.

“Estamos apenas no início”, afirma o doutorando e coautor Ruiliang Zhao. “Ao aprendermos com os truques moleculares da natureza, podemos desenvolver soluções mais inteligentes para a medicina e para a tecnologia.”

ZAP //

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