Investigadores justificam a conclusão do seu estudo com um estado de alarme que todos temos durante o período de descanso, o que nos previne de possíveis sustos, mas também de um sono tranquilo.
Durante o período de sono, o cérebro humano torna-se mais ativo quando ouve vozes que não lhe são familiares do que quando estão em contacto com vozes que conhecem. Simultaneamente, também consegue processar informação relativa ao ambiente que rodeia, mesmo num estado de sono profundo. Estas são duas das conclusões de um estudo feito por Manuel Shabas, da Universidade de Salzburgo, na Áustria, e pela sua equipa, no qual monitorizaram, através de EEG, 17 pessoas com médias de idade de 23 anos durante duas ou mais noites.
“A primeira noite serviu para os indivíduos se habituarem ao novo ambiente”, descreveu o investigador. Já na segunda, enquanto os participantes dormiam, foi reproduzida, de forma sucessiva, uma gravação de uma voz humana: tanto familiar para cada os indivíduos, como um familiar ou um parceiro romântico, ou de alguém desconhecido. Nos dois casos, a voz repetia sempre três nomes, dois aleatórios e um comum, mas também o do indivíduo que dormira. Segundo a New Scientist, a gravação foi reproduzida quatro vezes no espaço de 90 minutos durante a noite – havendo também uma pausa de 30 minutos para que as pessoas permanecessem adormecidas.
Desta forma, os investigadores concluíram que as vozes desconhecidas produzem mais atividade cerebral durante o sono do que as vozes familiares. Particularmente, também descobriram que o número de complexos K – um tipo de onda cerebral – aumentava quando os indivíduos ouviam vozes pouco familiares.
“O complexo K é interessante porque reage de forma imediata a distúrbios”, descreve Manuel Shabas. A reação pode ser dividida em duas partes: na primeira, o cérebro processa a informação e depois supressa-a, para que ela não acorde a pessoa durante o sono. Quando a atividade cerebral dos participantes parecia sugerir que estes iam acordar, a equipa de investigadores baixava o volume das gravações para os manter a dormir.
De acordo com o principal autor do estudo, a descoberta faz sentido em termos evolutivos, já que, aponta, “uma voz desconhecida não devia falar connosco durante a noite, enquanto dormimos, o que é motivo para alarme“. Segundo o próprio, esta também pode ser a razão pela qual pode ser difícil para algumas pessoas dormir num ambiente estranho, como um hotel.
Já para Julie Derbyshire, da Universidade de Oxford, que não participou na investigação, estes efeitos são vistos, muitas vezes, quando os pacientes têm dificuldade em dormir”. “Em parte, isto acontece porque poucas coisas no ambiente que os rodeia são familiares. A juntar às vozes pouco familiares, os pacientes também têm na sua envolvência outros sons estranhos e imprevisíveis”.
Ainda de acordo com o estudo, as vozes pouco familiares também causam menos complexos K na segunda metade da noite, em comparação com a primeira. “Isto significa que podemos aprender algo novo quase de forma inconsciente”, aponta Shabas. Ainda assim, ressalva que essa aprendizagem não poderá assumir aplicar-se, por exemplo, a outras palavras. “É precisa uma noite de sono e de descanso, e caso não se durma bem, daí resultarão mais prejuízos do que ganhos para a aprendizagem”.