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Donas de caça. Afinal, as mulheres pré-históricas já eram caçadoras

Ao longo da história da maioria das culturas, as mulheres também participaram na caça de subsistência – e até eram mais versáteis do que os homens.

Mito desfeito: “nos povos antigos o homem caçava e a mulher apanhava o alimento” não passa mesmo um mito.

Felizmente, vivemos numa época em que a ideia de que os homens são mais aptos para caçar já foi ultrapassada.

A crença generalizada sobre o que acontecia antes, nos povos que praticavam a caça como forma de subsistência, é que está prestes a mudar.

Sabe-se agora que, na pré-história, as mulheres, afinal, também eram caçadoras.

Um estudo, publicado esta quarta-feira, na revista Plos One, descobriu que as mulheres caçaram/caçamm em pelo menos 79% das sociedades caçadoras-recoletoras do passado e do presente.

A caça e a recolha foram os primeiros modos de subsistência do homo sapiens. Os humanos foram caçadores-recoletores até à revolução neolítica, e há ainda hoje comunidades que adotam esse modo de vida.

Aquele que se pensava que seria o papel tradicional da mulher neste povos – apanhar plantas e outro tipo de alimentos, não provenientes da caça – é agora desmentido.

As evidências arqueológicas de toda a história humana e pré-história mostram que as mulheres também participaram na caça, tal como atualmente participam.

Conta o Popular Science que recentemente foram encontrados restos mortais de mulheres, enterrados ao lado de um kit ferramentas de caça de grande porte, incluindo um corpo com 9 mil anos, no Peru.

Neste estudo, os cientistas procuraram provar que não havia padrões de género, nessas sociedade. As mulheres, tal como os homens, caçavam e recolhiam alimento.

A equipa analisou analisou dados do século XX, em 63 povos de mundo: 19 na América do Norte, 12 em África, seis na América do Sul, cinco na Ásia, 15 na Austrália, e seis na restante região oceânica.

Conclusão: as mulheres caçavam em 79% dessas sociedades (e com mais engenho! Já lá vamos) e eram bastante proficientes.

“Acho que já todos esperavam encontrar evidências de que as mulheres caçavam. O que foi surpreendente foi a quantidade de mulheres a caçar de forma intencional”, disse, à Popular Science, Cara Wall-Scheffler, uma das autoras do estudo e antropóloga biológica da Seattle Pacific University.

“Esperávamos encontrar evidências de que as mulheres caçavam de forma oportunista – só quando encontrassem presas, por acaso. Descobrimos, no entanto, que, em muitos povos, as mulheres saem mesmo de casa para caçar”, revelou.

Mais versáteis do que os homens

O estudo também mostrou que as mulheres são muito ativas na instrução da caça e usam uma variedade maior de armas e estratégias do que os homens.

Os pesquisadores deram como exemplo uma comunidade de Agta, nas Filipinas: enquanto os homens, geralmente, dependem apenas de uma estratégia consistente de arco e flecha, as mulheres variam mais no uso das suas ferramentas e técnicas.

Algumas das mulheres preferem caçar com facas de vários tipos, algumas também usam arcos e flechas, e outras combinam todas as ferramentas.

A consideração final é que as as mulheres são bastante habilidosas, desempenhando um papel importante na prática, em muitas comunidades que subsistem da caça.

Este estudo vem derrubar um série de estereótipos, até em estudos anteriores, que terão influenciado incorretamente a forma como a história destes povos – e não só – sempre foi interpretada e contada.

Conta o Popular Science que em 2017 foram encontrados, na Suécia, restos mortais, daquilo que se julgava ser homem, ao lado de armas e equipamentos associados a gladiadores. Uma análise posterior revelou que, afinal, se tratava de uma mulher.

Os cientistas exigem que muitas evidências arqueológicas antigas sejam reavaliadas. Para pesquisas futuras, advertem para a ideia errada de que os só homens eram/são caçadores.

Miguel Esteves, ZAP //

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