Dois terços dos europeus ainda acham que as mulheres não têm as habilidades necessárias para chegarem a cargos científicos de alto nível, e 89% pensa mesmo que as mulheres não têm jeito para a Ciência.
Um inquérito a cinco mil pessoas acerca das suas perceções sobre os cientistas lança algumas luzes sobre as razões pelas quais vemos tão poucas mulheres na Ciência.
Para começar, o fator notoriedade: as pessoas conhecem poucas investigadoras famosas. Ao terem que citar nomes de cientistas, 71% dos inquiridos referiu homens, e apenas 33% lembrou-se de personalidades femininas. Em França, Marie Curie foi a única mulher mencionada de forma espontânea.
Quando perguntados sobre quais as áreas para as quais as mulheres têm mais aptidões, 89% respondeu “qualquer coisa menos Ciência”, apontando as ciências sociais, a comunicação e as línguas como disciplinas mais adequadas.
Enquanto apenas 10% dos europeus acreditam que as mulheres têm perfil para a Ciência, 67% defende que as mulheres não têm capacidades para atingir cargos científicos de topo. Uma série de alegadas limitações foram apontadas como possíveis razões, nomeadamente a suposta falta de perseverança, de pensamento racional, de praticalidade, de rigor, de espírito científico e de uma mente analítica.
Mudar os números
E o que impede as mulheres de chegar a cargos de topo? Tanto homens como mulheres responderam que os fatores culturais eram importantes. Contudo, 45% das mulheres acreditam que são os homens que bloqueiam a progressão da carreira das mulheres, e 44% (comparado a 37% dos homens) considera existir um problema nos incentivos dados ao sexo feminino por parte dos empregadores.
Por outro lado, apesar desta visão pejorativa, os inquiridos acreditavam haver mais investigadoras do que realmente há: a estimativa média foi de que 28% dos altos cargos académicos na União Europeia fossem ocupados por mulheres, quando na realidade apenas 11% das posições de topo são ocupadas por mulheres. Aliás, a nível mundial, apenas 30% dos investigadores são do sexo feminino.
O Guardian relaciona estes números a fenómenos sociais mais profundos, como o facto de pais e professores não incentivarem as raparigas a estudar disciplinas do campo das Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática – conhecidas como STEM, da sigla em inglês -, mesmo sem se aperceberem deste estigma.
A L’Oreal recupera estes resultados precisamente no contexto da campanha #ChangeTheNumbers, que tem como protagonista Elizabeth Blackburn, Nobel da Medicina em 2009, e aponta para um objetivo a longo prazo de aumentar o pequeno número de mulheres no clube de vencedores do Nobel científicos – que atualmente compõe apenas 3% do total de galardoados -, o que pode ser atingido apenas se mais raparigas enveredarem por carreiras científicas.
“Eu mesma tive que ultrapassar preconceitos ao longo da minha carreira“, afirmou a investigadora no lançamento da campanha, na semana passada. “Parece-me essencial participar neste movimento para alargar fronteiras de forma mais significativa”.
Aline Flor, ZAP
Dois terços dos europeus são burros