/

Dois mundos habitáveis afinal parecem ser ilusões cósmicas

NASA

-

Um novo estudo sugere que o que os astrónomos pensavam ser um par de mundos alienígenas potencialmente favoráveis à vida são ilusões fabricadas pela intensa actividade magnética de uma estrela.

Os cientistas acrescentam que estas novas descobertas podem um dia não só ajudar os astrónomos a dissipar mais destes exoplanetas ilusórios, mas também descobrir mundos que de outra forma permaneceriam escondidos.

Ao longo dos últimos 20 anos, os astrónomos confirmaram a existência de mais de 1700 planetas para lá do nosso Sistema Solar, e em breve poderão provar a existência de outros milhares.

Os exoplanetas nas zonas habitáveis das suas estrelas, regiões quentes o suficiente para permitir água à superfície, são de especial interesse porque, cá na Terra, onde quer que haja água, existe vida.

Gliese 581, também conhecida como GJ 581,  é uma estrela que despertou grande interesse recentemente. Os cientistas pensavam que possuia até seis planetas, incluindo Gliese 581g, que os seus descobridores afirmaram ter sido o primeiro mundo potencialmente habitável.

No entanto, Gliese 581g atraiu desde aí muita controvérsia sobre se existe ou não.

A existência de exoplanetas como Gliese 581e, 581b e 581c está bem estabelecida. No entanto, a existência de outros três mundos possíveis – 581d, 581f e 581g – tem sido muito debatida. Tentadoramente, tanto 581d como 581g pareciam estar na zona habitável da estrela.

Diferentes métodos de identificação

Um dos métodos que os astrónomos usam para detectar exoplanetas é o método de velocidade radial, que procura mudanças repetidas na luz de uma estrela, sinais da atracção gravitacional de um planeta.

No entanto, os efeitos de velocidade radial atribuídos aos planetas são, por vezes, efeitos derivados de manchas escuras na própria estrela, como foi o caso de Gliese 581f, que os cientistas já não acreditam existir.

Para ajudar a resolver o debate sobre a existência dos mundos potencialmente habitáveis Gliese 581d e 581g, os astrónomos investigaram a actividade da sua estrela hospedeira.

Gliese 581, localizada a cerca de 20 anos-luz da Terra na direcção da constelação de Balança, é uma anã vermelha, uma estrela fraca e fria com aproximadamente um-terço da massa do Sol.

Os cientistas determinaram que estes mundos controversos são aparentemente ilusões criadas por uma estrela “barulhenta”.

psu.edu

O astrónomo Paul Robertson, da Penn State, a Universidade da Pensilvânia

O astrónomo Paul Robertson, da Penn State, a Universidade da Pensilvânia

“Provámos que alguns dos sinais controversos de Gliese 581 não vêm de dois planetas na zona habitável, mas da actividade da própria estrela, que se mascaravam de planetas,” afirma Paul Robertson, autor principal do estudo, astrónomo da Universidade Estatal da Pennsylvania, EUA.

Os cientistas analisaram a luz de Gliese 581 usando dois espectrógrafos diferentes – o instrumento HARPS do ESO, acoplado a um telescópio no Chile, e o espectrógrafo HIRES, acoplado ao telescópio Keck no Hawaii.

Focaram-se em padrões de luz emitida por átomos de hidrogénio e sódio superquentes dentro da estrela, que são muito sensíveis a mudanças na actividade magnética.

A actividade magnética de uma estrela pode alterar a velocidade de rotação de cada parte da atmosfera de uma estrela, criando um sinal que pode ser confundido com um planeta.

Tendo em conta estas pistas enganadoras, os astrónomos descobriram que os sinais atribuídos a Gliese 581d e 581g eram na realidade criados por regiões de intensa actividade estelar magnética, como as manchas solares no Sol.

Entretanto, com os mesmos métodos, confirmaram a existência de 581e, 581b e 581c.

“Estes resultados são interessantes porque explicam, pela primeira vez, todas as observações anteriores e um pouco contraditórias da estrela anã Gliese 581,” comenta Robertson.

A natureza exacta da actividade magnética que cria estes sinais falsos de Gliese 581d e 581g está ainda por explicar.

“É necessária mais pesquisa para compreender totalmente a actividade magnética desta estrela”, salienta Robertson

“A minha previsão é que vamos encontrar mais planetas do que os que perdemos. O ruído estelar pode ser removido para descobrir novos exoplanetas,” conclui.

CCVAlg

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.