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Dois mil milhões de mosquitos modificados e uma população descontente

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Nem todos estão de acordo com o plano da Oxitec de libertar 2,4 mil milhões de mosquitos geneticamente modificados na Califórnia e na Florida.

Em março, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) aprovou os planos da biotecnológica Oxitec para libertar 2,4 mil milhões de mosquitos geneticamente modificados na Florida e Califórnia, para combater as doenças transmitidas pelo próprio animal.

A empresa responsável pela sua produção, a Oxitec, explicou que o plano visa reduzir o número de invasores, que podem transportar doenças como o zika, a febre amarela e a dengue. As espécies em causa serão machos Aedes aegypti, sem capacidade de picar ou reproduzir fêmeas.

Enquanto os mosquitos fêmeas vão morrer, os machos deverão reproduzir-se e espalhar o gene modificado para a geração seguinte, o que acabará por levar ao declínio da população.

Mas nem todos estão de acordo com estes planos, conta o The Los Angeles Times.

Muitos cientistas independentes da Oxitec estão preocupados com o novo projeto, e afirmam que há riscos que ainda não foram totalmente estudados.

Estes incluem a possibilidade de a experiência prejudicar outras espécies, ou tornar a população de mosquitos local mais difícil de controlar, relata a Interesting Engineering.

“É preciso haver mais transparência sobre a razão pela qual estas experiências estão a ser feitas”, alertou Natalie Kofler, especialista da Escola Médica de Harvard. “Como estamos a ponderar os riscos e benefícios?”

Kofler acrescentou que as experiências podem também ser mais adequadas para regiões mais tropicais, já que a Califórnia nunca testemunhou um caso em que um Aedes aegypti tenha sido encontrado a transmitir doenças.

“Preocupa-nos que a atual supervisão governamental e avaliação científica dos mosquitos não assegurem a sua utilização responsável”, escrevu Kofler e quatro outros cientistas académicos em 2020.

Os especialista expressaram a sua preocupação de que a EPA dependesse de dados internos — que poderiam ser tendenciosos— das empresas biotecnológicas, para tomar as suas decisões.

Kofler e outros investigadores solicitaram que os cientistas da EPA procurassem a opinião de peritos independentes em vez de confiarem na Oxitec. Kofler acrescentou que a EPA estava possivelmente “a ser apanhada de surpresa”.

“Não é uma estrutura reguladora suficientemente moderna”, realçou Kofler, “para uma tecnologia tão moderna e complicada”.

Os residentes que vivem perto de áreas onde os primeiros insetos modificados podem ser libertados estão também a manifestar preocupação pelo facto de a Oxitec planear libertar um máximo de 3,5 milhões de mosquitos por semana.

“Isto é alarmante”, notou Angel Garcia, residente de Visalia, uma das áreas visadas. “Os residentes não foram consultados e não concordaram em fazer parte disto”.

Garcia é membro da organização sem fins lucrativos “Californians for Pesticide Reform” e queixa-se de que as suas preocupações não têm efeito na Oxitec, apontando para um evento de contratação que a Oxitec organizou em Visalia, a 17 de março. “É como se isto já fosse um negócio feito”, afirmou.

Funcionários do Estado notaram que os comentários do público podem ser enviados por e-mail até 19 de abril.

Mas por enquanto, parece que os planos para avançar com a experiência estão em curso. Será isto um projeto com sucesso ou um incidente catastrófico?

ZAP //

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