Doentes com lesões cerebrais recuperariam se o suporte de vida não fosse interrompido? Estudo responde

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Alexandra_Koch // pixabay

Depois de comparar as pessoas com lesões cerebrais cujo suporte de vida foi mantido com as que foi desligado, os cientistas calcularam que cerca de 40% do último grupo poderia ter sido recuperado.

Segundo o New Scientist, os traumatismos crânio-encefálicos podem ocorrer devido a um golpe forte, a um abanão na cabeça ou à entrada de um objeto no cérebro, como uma bala.

Embora seja difícil prever a evolução de um individuo, alguns recuperam e adquirem, pelo menos, uma independência parcial meses mais tarde. Mesmo assim, é frequente as famílias terem de decidir se devem ou não retirar o tratamento de suporte de vida poucos dias depois de uma lesão grave.

Para saber mais sobre os potenciais resultados de tais eventos, Yelena Bodien, do Massachusetts General Hospital, e os seus colegas recolheram dados, durante sete anos e meio. sobre pessoas que estavam em suporte de vida depois de um traumatismo crânio-encefálico em unidades de cuidados intensivos nos EUA.

Destas pessoas, 80 tiveram o suporte de vida retirado e os seus resultados foram comparados com os de 56 pessoas na mesma situação que continuaram em tratamento, algumas das quais recuperaram um certo nível de independência.

Os investigadores identificaram fatores associados à retirada do suporte de vida, como a idade e o género da pessoa. A partir daí, utilizaram o algoritmo para calcular a probabilidade de recuperação dessas pessoas se o tratamento tivesse sido mantido.

Estes resultados sugerem que 42% das pessoas a quem foi retirado o suporte de vida poderiam ter sobrevivido e adquirido, pelo menos, uma independência parcial seis a 12 meses após a lesão.

“O prognóstico após o traumatismo crânio-encefálico é altamente incerto e é muito importante expressar essa incerteza às famílias”, afirma Bodien. “Os nossos resultados sugerem que é necessária uma abordagem mais cautelosa ao estabelecer o prognóstico, é necessária uma análise cuidadosa ao tomar uma decisão tão irreversível como a retirada do aparelho de suporte de vida”.

A falta de informação sobre os resultados a longo prazo do traumatismo crânio-encefálico é uma das razões pelas quais é difícil trazer um prognóstico, o que pode levar os médicos a assumirem que um mau resultado é provável e, portanto, recomendar a retirada do suporte de vida.

Damian Cruse, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, diz que os resultados devem ser interpretados com alguma cautela.

As decisões de retirar o suporte de vida são multifacetadas e não dependem necessariamente de dicotomias do tipo “ficarão em estado vegetativo ou não?“, mas têm mais a ver com o facto de o nível de recuperação ser algo com que o doente ficaria satisfeito”, afirma.

“Dito isto, é evidente, a partir destes e de outros dados, que não somos tão exatos nas nossas previsões de recuperação no período inicial após a lesão como gostaríamos de ser, especialmente porque estas previsões vão alimentar as difíceis escolhas das famílias“.

Os investigadores gostariam agora de comparar as taxas de recuperação após uma lesão cerebral traumática grave entre pessoas de países fora dos EUA, diz Bodien.

“Estamos também a realizar estudos para compreender quais os métodos estatísticas de imputação de resultados mais precisos e que poderiam ser utilizados em estudos futuros para estimar os potenciais resultados em doentes que morrem após a retirada do suporte de vida”.

Os investigadores gostariam agora de comparar as taxas de recuperação após uma lesão cerebral traumática grave entre pessoas de países fora dos EUA, diz Bodien.

“Estamos também a realizar estudos para compreender quais os métodos estatísticas de imputação de resultados mais precisos e que poderiam ser utilizados em estudos futuros para estimar os potenciais resultados em doentes que morrem após a retirada do suporte de vida”, afirma.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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1 Comment

  1. Pois… isto é do diabo…
    O meu pai morreu porque o retiraram do suporte de vida quando estava em plena recuperação, por receio que os equipamentos fossem necessários para tratamento de infectados de Covid, antes de haver alguém nesse estado no hospital…
    É agora uma incógnita, claro, mas talvez mais dois ou três dias tivessem chegado… E os suportes de vida de onde ele foi retirado só foram ocupados 2 semanas depois…
    É do diabo…

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