Há provas que ligam misteriosa doença que paralisa crianças a vírus raro

(dr) microbeworld.org

Casos de paralisia devidos à Mielite Flácida Aguda associados ao enterovírus EV-D68.

Pela primeira vez, foram encontradas provas da associação do Enterovírus D68, um vírus raro até há algum tempo, à Mielite Flácida Aguda, uma doença semelhante à poliomielite que tem afectado centenas de crianças, provocando a paralisia dos membros.

A associação entre o Enterovírus D68 (EV-D68) e a Mielite Flácida Aguda (AFM na sigla em Inglês) não é nova, mas, pela primeira vez, cientistas descobriram sinais da impressão digital do vírus no fluido espinal de pacientes afectados pela doença.

Um estudo publicado em Agosto passado já tinha detectado “sinais escassos” do ácido ribonucleico ou ARN do vírus em amostras do soro e fluído espinal em torno do Sistema Nervoso Central de pacientes diagnosticados com AFM.

Esta pesquisa identificou anti-corpos do vírus em quase 80% dos casos de AFM em comparação com a presença em apenas 30% dos pacientes saudáveis, mas lidou com uma amostra considerada muito pequena, com apenas 14 pacientes afectados pela doença e 5 pessoas saudáveis como medida de controlo.

Uma investigação mais recente, realizada por investigadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos EUA, e publicada em Outubro passado na revista científica Nature Medicine, retirou conclusões semelhantes, com a análise de 42 crianças diagnosticadas com AFM.

Estes investigadores compararam amostras dos anticorpos de enterovírus detectados nestas crianças doentes com as de 58 crianças sem o problema.

E se encontraram poucos sinais do vírus propriamente dito, “em mais de dois terços das amostras de pacientes com AFM, foram encontrados anticorpos correspondentes a proteínas pertencentes à família e género do vírus EV-D68″, constata o ScienceAlert que reporta a pesquisa.

“Em comparação, apenas 7% dos controlos apresentaram anticorpos semelhantes nos seus fluídos espinais”, acrescenta a publicação científica.

Testes adicionais confirmaram os resultados e a conclusão aponta que os “anticorpos do vírus eram muito mais propensos a estarem presentes nos sistemas nervosos dos pacientes com a condição paralisante”.

Nenhum destes estudos conseguiu detectar “o vírus em flagrante”, mas ainda assim, são “a prova mais forte” que existe até à data de que “um patogeno relativamente comum está por trás de uma epidemia que há anos confunde as autoridades de saúde”, acrescenta o ScienceAlert.

A AFM foi detectada, pela primeira vez, em 2012, nos EUA, e desde então, o número de casos aumentou.

O EV-D68 estava, habitualmente, associado a problemas respiratórios leves, mas o cenário mudou em 2014, quando se começaram a registar diversos casos de infecções respiratórias graves provocadas pelo vírus.

Um estudo em 2017, já tinha concluído que o EV-D68 pode causar paralisia em ratos, mas só agora se torna concreta a associação entre o vírus e a AFM.

Esta pista é fundamental para perceber melhor a patologia e, especialmente, como é que o vírus outrora raro e inofensivo se tornou tão perigoso.

As estatísticas indicam que menos de uma em 100 crianças infectadas pelo EV-D68 desenvolve os efeitos paralisantes da AFM. Porque é que isso sucede é outro mistério a resolver.

ZAP //

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