500 anos de repressão. Novo documentário sobre ciganos, feito para não ciganos

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Mário Cruz / Lusa

“É um documentário para não ciganos, para que fiquem a saber o que a comunidade sofreu e não para ciganos, porque iria gerar revolta”. Com a recriação de leis repressivas procura-se levar a “medidas reparatórias”.

Um documentário feito em Elvas por 20 atores, dos quais 17 ciganos, mostra como um conjunto de leis repressivas ao longo dos séculos reprimiu a cultura e a língua ciganas, que praticamente não é falada em Portugal.

É um documentário para não ciganos, para que fiquem a saber o que a comunidade sofreu e não para ciganos, porque iria gerar revolta”, começou por dizer com alguma ironia Luís Romão, presidente da Associação Sílaba Dinâmica perante a plateia que viu o filme esta sexta-feira em Torres Vedras.

O documentário feito pela associação de Elvas, intitulado “500 anos de leis repressivas”, tem a duração de 20 minutos e conta a história de uma família cigana que se pretende instalar em Portugal na esperança de encontrar um lugar seguro. Neste percurso, encontra a hostilidade das ordens de expulsão, as dificuldades de comunicação entre o português e o romani ou a proibição de utilizar os seus trajes.

O objetivo era “anular a identidade cultural cigana visando a assimilação”, conclui o narrador no filme, acrescentando que “falar romani era um ato perigoso que resultou em punições” como açoitamentos severos em público e “até a língua podia ser cortada” no que era um aviso aos que pretendessem manter as tradições. Para contornarem a lei, falavam em grupo, o que reforçava os seus laços e assumia uma forma de resistência.

O documentário mostra ainda como estas comunidades foram empurradas para “as margens das cidades” onde, apesar disso, puderam sobreviver e preservar algumas tradições como a música.

Ensino de romani como “reparação” histórica

“O que pretendemos é fazer uma recriação das leis repressivas com algum realismo para ajudar a perceber, sobretudo decisores políticos, técnicos e professores o que aconteceu nos últimos 500 anos e de que forma poderíamos criar reflexões sobre medidas reparatórias para essas leis repressivas”, explicou à Lusa Rui Salabanda Garrido, responsável da associação e ator no filme.

Uma das medidas reparatórias que “nós consideramos muito importante era o ensino do romani, como forma de reparação dessa proibição que fez com que as pessoas praticamente não falem o romani, lançamos esse repto”, desafiou Rui Salabanda Garrido, o único não cigano da associação.

O presidente Luís Romão destacou que o objetivo da associação é mostrar “de formas diferentes” a história e cultura ciganas.

“Trabalhamos com a AIMA [Agência para a Integração Migrações e Asilo], concorremos a fundos que nos permitem andar a nível nacional a apresentar este documentário sobre leis repressivas, mas já tivemos uma peça de teatro”, exemplificou.

Nesse caso, a “História do ciganinho Chico” levou, num conto, a história e a cultura cigana a crianças de todo o país através de uma peça de teatro animada. Nessa peça mostrámos a nossa história e tradições, esse é o nosso objetivo, de formas diferentes, através do teatro e neste caso do documentário, mostrar a realidade das comunidades ciganas”, adiantou.

O documentário já foi apresentado no Porto, Figueira da Foz, Portalegre, Borba, Elvas e Torres Vedras.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Ainda bem que não nasci cigano e ser reprimido a receber um cheque todos os meses e uma casa paga pelos contribuintes e nunca precisar de trabalhar um dia na vida….

    • Mas olha, que já tive excelentes trabalhadores ciganos, e conheci alguns, como exemplo de honestidade. Também já fui roubado por outros (coisa pequena), que me quiseram vender o produto do roubo. Outros com um estar na vida, de despreocupação e folia, que me fizeram inveja. Não tenho nada contra eles, e na verdade acho que quem adora odiar sempre terá alguma coisa ou alguém debaixo de mira.

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