Discurso de Biden de 1997 mostra o quão pouco o controlo de armas mudou

Um discurso de Joe Biden, datado de 1997, de quando este era senador, mostra o quão pouco o controlo de armas mudou desde então.

Em 1997, após uma cerimónia na Casa Branca sobre as novas iniciativas de compra de armas de fogo, vários membros do Congresso responderam a perguntas da imprensa sobre financiamento de campanha e outros temas.

Os então senadores Joe Biden e Dianne Feinstein e o deputado Chuck Schumer falaram aos jornalistas sobre os perigos das armas de assalto.

Se o agora Presidente norte-americano voltasse a usar as mesmas palavras num discurso, talvez ninguém notasse. É este o reflexo de quão pouco o controlo de armas nos Estados Unidos mudou.

“Não tenho nada a dizer. O que é raro para um senador, eu sei”, começou por dizer, em tom de brincadeira, o então senador de Delaware, Joe Biden.

Perante as perguntas dos jornalistas, Biden acabou por defender que se um projétil perfura um colete à prova de bala, então não deveria de poder ser fabricado. “É mais difícil aprovar algo do que impedir que algo bom seja revogado”, disse Biden a certa altura.

O então senador defende ainda que se um criminoso usa ele próprio um colete de kevlar, então a sua pena deveria ser agravada. “Isso é constitucional?”, pergunta um repórter. “Sim, claro que é constitucional!”, retalia Biden.

“O que verificamos é que cada lei que aprovamos, as fabricantes de armas arranjam uma forma de a contornar”, lamenta Joe Biden.

“Eu acho que se tirarmos esses carregadores grandes, reduzimos o poder de fogo e se você tem um grande carregador e uma arma de alta velocidade, você tem um grande, grande problema”, disse também Feinstein, mais de 25 anos antes do tiroteio em Uvalde.

“Até que façamos algo real com as armas, as tragédias, seja no Empire State Building em Nova Iorque, ou em Los Angeles, ou em qualquer outro lugar, desde que os criminosos possam obter armas mais facilmente do que um carro, vai haver muitos assassinatos”, disse ainda Schumer.

“Aqui estamos em Washington, DC, leis de armas duras. Mas enquanto falamos, há alguém que está a conduzir um carro da Flórida, ou na Carolina do Norte, ou na Carolina do Sul, e na mala daquele carro estão 50 armas para vender numa esquina em Washington DC”, acrescentou.

Houve uma média de mais de 10 tiroteios em massa por semana, este ano, nos Estados Unidos. O Arquivo de Violência Armada contabilizou mais de 300 até ao momento.

Até ao mês passado, o Congresso sempre teve dificuldade em avançar com legislação importante para a segurança de armas. Joe Biden assinou recentemente uma lei bipartidária, mas limitada, sobre segurança de armas.

Na intervenção, Biden afirmou que a violência armada transformou os Estados Unidos em “campos de execução” e que a nova lei é um “começo importante” e uma “conquista histórica“.

No entanto, Biden reconhece que a lei não chega. “É hora de galvanizar este momento porque é o nosso dever para o povo desta nação. Devemos isto às famílias de Buffalo, onde um supermercado se tornou um campo de execução. Devemos isto às famílias em Uvalde, onde uma escola primária se tornou um campo de execução. É isto que devemos às famílias em Highland Park, onde a parada do 4 de Julho de tornou um campo de execução”, declarou.

O novo pacote legislativo inclui medidas que ajudam os estados a bloquear o acesso às armas de pessoas que já estejam sinalizadas como sendo um perigo para si mesmas ou para a sociedade, proíbe as vendas a quem tiver sido condenado por violência doméstica e aumenta os requisitos para os mais jovens poderem comprar uma arma legalmente.

A lei é a mudança mais significativa na política das armas nos Estados Unidos desde a ilegalização temporária das armas de assalto aprovada em 1993, mas está a ser criticada por ser pouco ambiciosa.

Daniel Costa, ZAP //

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