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Há diabéticos a falhar doses vitais de insulina nos Estados Unidos

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Nos Estados Unidos, cerca de um em cada quatro doentes de diabetes não estão a tomar todas as doses diárias de insulina, devido aos elevados preços. Para alguns diabéticos, a insulina é vital e não tomar as injeções pode levar à morte.

A insulina foi descoberta em 1923 por Frederick Banting, que se recusou a colocar o seu nome na patente. Para Banting, não seria ético um medico lucrar com uma descoberta que salvaria milhões de vidas.

O inventor acabaria por vender a patente à Universidade de Toronto por apenas um dólar, porque queria que todos que precisassem da medicação conseguissem pagar por ela. No entanto, o nobre gesto de Banting poderá ter sido em vão, uma vez que nos Estados Unidos há diabéticos a falhar doses vitais de insulina devido aos elevados preços das injeções.

No total, são cerca de 30 milhões de americanos dependentes de doses diárias de insulina. De acordo com a Vox, o custo dos quatro tipos mais populares de insulina triplicou na última década. Em 2016, o preço médio rondava os 450 dólares por mês.

Se tivermos em conta que cerca de 45% dos diabéticos tem mais de 65 anos e o valor da reforma nos Estados Unidos ronda, em alguns casos, os 2000 dólares mensais, a situação agrava-se. A insulina pode representar até 22% dos rendimentos mensais de um reformado diabético.

Membros do Congresso têm já colocado pressão para as empresas farmacêuticas e controlarem os custos da insulina. As empresas de cuidados médicos também partilham a preocupação e estão a tentar responder ao problema.

A Cigna, uma das maiores seguradores americanas, anunciou um novo programa que limita o custo da insulina para um máximo de 25 dólares por mês. Os diabéticos incluídos neste seguro de saúde veem assim uma redução de 40% em relação aos 41,50 dólares que pagavam no ano passado.

O programa ainda não está em vigor, mas deverá ser lançado ainda este ano. Até o próximo ano, todos os pacientes incluídos na Cigna — cerca de 700 mil — terão direito a este desconto. Uma parcela reduzida, quando comparada com os 30 milhões de americanos dependentes destas injeções.

“Qualquer medida que ajude apenas uma parcela da população por meio de acordos opacos criados pelos responsáveis por essa crise, não é uma solução“, disse Elizabeth Pfiester, fundadora e diretora executiva do grupo de pacientes T1 International. Pfiester defende ainda que é necessária uma garantia a longo prazo e que os preços se tornem mais acessíveis.

A explicação para os altos preços

Os médicos e investigadores que estudam a insulina dizem que as empresas aumentam o custo dos produtos devido ao ambiente regulatório negligente em torno do preço dos medicamentos. “Fazem isso porque podem”, disse Jing Luo, investigador do Hospital Brigham and Women.

Em Inglaterra, o Governo tem uma agência que negoceia diretamente com as empresas farmacêuticas, tendo uma maior influência nos preços praticados. O governo estabelece um preço máximo que pagará por um medicamento e, se as empresas não concordarem, simplesmente perdem o mercado.

Isto não acontece nos Estados Unidos, onde uma abordagem de mercado livre dá às farmacêuticas liberdade para definir os preços da medicação como bem entenderem. O preço dos medicamento é negociado separadamente com as seguradores privadas. O Medicare, o programa de saúde do Governo, está impedido de negociar preços.

O estudo publicado na Lancet, por Jing Luo, mostra que “as insulinas mais antigas foram sucessivamente substituídas por produtos novos, melhorados e cobertos por numerosas patentes adicionais”. O que se verifica é que 90% dos diabéticos de tipo 2 estão a tomar injeções das versões mais recentes e, consecutivamente, mais caras da insulina.

A situação portuguesa

Em Portugal, segundo evidencia a revista Visão, há cerca de um milhão de diabéticos e outros dois milhões de pré-diabéticos — pessoas que irão desenvolver a doença nos próximos dez anos.

A situação portuguesa acaba por ser bastante distinta daquela vivida nos Estados Unidos. No site do Serviço Nacional de Saúde pode ler-se que “o valor máximo da comparticipação do Estado no custo de aquisição das agulhas, seringas e lancetas para pessoas com diabetes corresponde a 100% do PVP máximo”.

Isto significa que o Estado comparticipa totalmente nos custos de insulina para diabéticos — tanto na medicação, como nos instrumentos para a sua administração. Quanto às tiras, testes para pessoas com diabetes, a comparticipação do Estado corresponde a 85% do valor.

As falhas na distribuição da insulina são pontuais e o seu impacto pode ser evitado se o diabético for educado para manter em casa uma reserva do produto”, sublinha João Raposo, médico e diretor clínico da Associação Protetora dos Diabetes de Portugal.

Contudo, a situação em Portugal não está propriamente resolvida. Segundo João Raposo, “as equipas de saúde ainda não estão treinadas para lidar com todos os aspetos e técnicas relacionados com o tratamento de um diabético”. Além disso, realça também um grande atraso no acesso a novas terapias e tecnologias inovadoras.

ZAP //

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