“Dia Zero” da Netflix: cuidado nas comparações com a realidade

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Dia Zero

Nova série, que marca a estreia de Robert De Niro, está a ser um grande sucesso na plataforma. E o conteúdo levanta questões.

Um antigo presidente dos EUA é chamado da reforma para encontrar a origem de um ciberataque letal e acaba por descobrir uma vasta teia de mentiras e conspirações.

Esta é a sinopse de Dia Zero, a nova mini-série da Netflix, que já está a ser um grande sucesso na plataforma. Foi a segunda mais vista na última semana.

A estrela é Robert De Niro, que nunca tinha sido protagonista numa série de televisão (exceptuando a participação como narrador numa série argentina).

Há um evento que corta energia, telefones, comunicações, sistemas financeiros. Os EUA ficam “às escuras” e morrem milhares de pessoas. O mundo está em perigo e os culpados podem ser os russos – esta parte não é novidade.

Criado por Eric Newman, Noah Oppenheim e Michael S. Schmidt, já começa a circular a pergunta: este ciberataque aos EUA em grande escala… será mesmo só ficção?

Há partes que podem acontecer na realidade; mas um ataque deste género, concretizado na perfeição, já é muito pouco provável.

O portal Boy Genius Report ouviu especialistas em cibersegurança. James McQuiggan explica que uma guerra cibernética “geralmente é mais complexa e metódica e decorre nas sombras muito antes de o público se aperceber”.

A série até descreve de forma correcta as vulnerabilidades inerentes à infraestrutura crítica (energia, telecomunicações) e reflecte as reais “ameaças persistentes avançadas”, com hackers a terem um acesso prolongado aos sistemas.

No entanto, continua James McQuiggan, a escala do ataque não é para ser levada a sério: “Um ataque cibernético sincronizado que conseguisse derrubar a infraestrutura crítica de vários sectores, ao mesmo tempo, exigiria imensa coordenação, acesso pré-existente e sofisticação sem precedentes”.

Outro especialista, Martin Jartelius, acrescenta que os ciberataques raramente são tão abrangentes ou executados sem qualquer falha: “Os ataques cibernéticos raramente atingem todos os sistemas simultaneamente em vários sectores, plataformas e redes. A maioria dos sistemas físicos consegue impedir a falha total”.

Ou seja, em “Dia Zero” faltam as referências ao que acontece em momentos de ciberataques: centrais energéticas, metro ou mesmo centrais nucleares têm uma forma manual de substituir o sistema, que mitiga o “caos em cascata” retratado na série.

O especialista Chris Hauk fala sobre Inteligência Artificial: um dia pode tornar reais estes ataques – mas, para já, não.

“A IA pode escrever o código-fonte em vários sistemas operacionais, mas não estamos exactamente no ponto em que o malware pode aprender rapidamente para infectar sistemas totalmente novos”, explicou Chris.

Há um aspecto em que a série acerta em cheio: descobrir o responsável. Na maioria dos ciberataques, é mesmo muito difícil descobrir quem foi a pessoa por detrás do esquema. As proxies, as credenciais roubadas, as identidades falsas dificultam muito a tarefa.

Com ou sem exageros técnicos, os profissionais de cibersegurança concordam: “Dia Zero” deixa as pessoas e entidades mais atentas a esta ameaça. Fortalecer as defesas digitais não é um pormenor.

ZAP //

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