Após vários dias de previsões, os detritos do foguetão chinês Longa Marcha 5B que se aproximavam da Terra reentraram na atmosfera, caindo sobre o Oceano Pacífico às 17:45 de sábado, com a maior parte dos destroços a se desintegrar sobre o mar de Sulu, entre a Malásia e as Filipinas.
A informação foi avançada pelo Comando Espacial dos Estados Unidos e confirmada pela Agência Espacial Tripulada Chinesa, na rede social Weibo. Na quinta-feira, a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) informou que entre 30 e 31 de julho poderia haver uma queda de “até nove toneladas” de detritos do foguetão chinês em território europeu. Portugal chegou a estar na rota prevista.
Mas o lixo espacial acabou por dispersar “de forma descontrolada” por uma área com cerca de 2000 quilómetros de comprimento e 70 quilómetros de largura.
Debris from Chinese rocket lit up night sky some parts of Malaysia. US space command confirm the development China’s Long March 5B (CZ-5B) re-entered over the Indian Ocean at approx 10:45 am MDT on 7/30.pic.twitter.com/BIkjamFbTz
— Sidhant Sibal (@sidhant) July 30, 2022
“Este é o desfecho da reentrada do Chang Zheng 5B Y3 [parte do foguetão Longa Marcha 5B]”, escreveu no Twitter Jonathan McDowell, astrofísico no Centro de Astrofísica da Universidade de Harvard, apontando: “voltaremos a passar por isto em outubro, com o Chang Zheng 5B Y4, programado para o lançamento do próximo módulo da estação Tiangong, a estação espacial chinesa”.
Well, that’s a wrap on the Chang Zheng 5B Y3 reentry.
We’ll go through this again in October with Chang Zheng 5B Y4, which is scheduled to launch the next Chinese space station module.— Jonathan McDowell (@planet4589) July 30, 2022
Este foguetão foi lançado para a órbita da Terra pela China no dia 24 de julho e os seus destroços regressaram à Terra menos de uma semana depois.
Ao Público, o astrofísico português André Moitinho de Almeida explicou que a regra é que esse tipo de detritos sejam controlados e se desintegrem em pequenos fragmentos ao reentrar na atmosfera – todos os anos retornam ao planeta uma centena de objetos fragmentados.
Neste caso, contudo, a reentrada de um gigante objeto de várias toneladas e grandes dimensões aconteceu sem qualquer controlo e sendo quase impossível prever onde cairia, algo que só se explica por “negligência” da China, afirmou o professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
“As missões chinesas têm sido alvo de muitas críticas. É completamente irresponsável permitir que objetos deste tamanho reentrem de forma não controlada [na atmosfera]”, argumentou o e investigador do CENTRA – Centro de Astrofísica e Gravitação. “A tecnologia existe e é uma prática, só que nem toda a gente a adota. Acho que é negligência, irresponsabilidade [da China]”, concluiu.
Já em 2020 e 2021, a China permitiu o regresso descontrolado de destroços de foguetões lançados pelo país. Acabariam por cair perto da costa ocidental africana e no Oceano Índico, respetivamente.