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Desvendado o mistério de pintura com 118 anos encontrada na Antárctida

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O mistério em torno de uma aguarela com um pássaro morto que tinha sido descoberta numa antiga cabana na Antárctida foi finalmente, desvendado.

A pintura, de uma trepadeira-do-bosque, estava numa cabana construída por exploradores noruegueses e que depois foi usada pela trágica Expedição Terra Nova, empreendida em Janeiro de 1912, que resultou na morte do capitão britânico Robert Falcon Scott e de mais quatro exploradores, quando tentavam regressar do Pólo Sul.

A imagem foi encontrada numa pilha de papéis cobertos de mofo e de fezes de pinguins e acredita-se que tenha sido pintada por um dos elementos da equipa de Scott, o médico, ornitólogo e especialista em História Natural britânico Edward Wilson.

Para Josefin Bergmark-Jimenez, técnica de conservação da Antarctic Heritage Trust, ONG neozelandesa que se dedica à preservação da História dos grandes conquistadores da Antárctida, a descoberta foi o “maior momento” da sua carreira.

“Havia esta linda pintura, a minha surpresa foi tamanha que dei um salto. Então, levei-a para fora e não conseguia parar de olhar para ela – as cores, a vitalidade, é uma peça tão bonita”, destaca Bergmark-Jimenez, assumindo que “não podia acreditar que estivesse lá”.

Antarctic Heritage Trust

Aguarela pintada em 1899 foi descoberta numa cabana na Antárctida.

A aguarela, pintada em 1899, foi descoberta numa cabana na Antárctida.

A descoberta ocorreu em 2016, mas foi mantida em segredo para que os conservadores pudessem restaurar cerca de 1.500 artefactos de duas cabanas construídas por exploradores noruegueses em Cape Adare, em 1899.

A pintura tem a inscrição “1899 Tree Creeper” (ou seja, “1899 Trepadeira-do-bosque”) junto da inicial T. De início, os especialistas não conseguiram identificar o artista, mas após ir a uma palestra sobre Edward Wilson e ver outros trabalhos seus, Bergmark-Jimenez deu-se conta de que a pintura só poderia ser dele.

“Assim que vi a sua grafia característica, soube que ele tinha pintado o pássaro. Isto fez sentido, já que havia um artigo de jornal de 1911 sobre o grupo de Scott que foi para a Antárctida através da Nova Zelândia (na pilha de papéis)”, explica a técnica de conservação.

Antarctic Heritage Trust

Josefin Bergmark-Jimenez, técnica de conservação neo-zelandesa, com aquarela de 118 anos descoberta na Antárctida.

Josefin Bergmark-Jimenez, técnica de conservação neo-zelandesa, com aguarela de 118 anos descoberta na Antárctida.

Edward Wilson nasceu em 1872 em Cheltenham, em Inglaterra, onde uma galeria de arte e um museu têm o seu nome e exibem colecções permanentes do seu trabalho. A sua estátua de bronze, criada pela viúva de Scott, Kathleen Scott, fica em frente à Câmara da cidade e uma escola primária em Paddington, Londres, também tem o seu nome.

“Ele não era apenas um pintor talentoso, mas um cientista e um médico que foi integrante essencial das duas expedições de Scott (ao continente antárctico, em 1911 e 1912)”, conta Lizzie Meek, da Antarctic Heritage Trust.

Bergmark-Jimenez explica que a pintura está em condições tão boas, apesar de as aguarelas serem “muito susceptíveis à luz”, pelo facto de “ter passado 100 anos escondida entre outros papéis, no meio de condições de frio e escuridão“. O cenário “foi o ideal para conservá-la”, refere.

Não se sabe porquê, nem como é que a pintura foi deixada na cabana, já que a trepadeira-do-bosque é um pássaro do Hemisfério Norte. “É provável que Wilson tenha feito a pintura quando estava a recuperar de tuberculose na Europa“, refere a técnica de conservação.

Mas o pássaro nunca “voará” de regresso ao norte, já que o espaço já tem o estatuto de Área de Protecção Especial da Antárctida – e todos os artefactos serão devolvidos à cabana após o seu restauro.

Canterbury Museum

Edward Wilson morreu durante a expedição do capitão Robert Falcon Scott ao Polo Sul

Edward Wilson morreu durante a expedição do capitão Robert Falcon Scott ao Polo Sul

ZAP // BBC

9 Comments

  1. -“artefactos de duas cabanas construídas por exploradores noruegueses em Cape Adare, em 1988.” ?
    Não será 1898 ? Ou 1889?

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