Nos solos de uma floresta de New England, nos Estados Unidos, cientistas identificaram vírus gigantes com atributos físicos sem precedentes, incluindo estruturas exteriores em forma de estrela e peculiares protrusões tubulares.
Os vírus gigantes têm uma diversidade de formas e tamanhos muito maior do que até agora se sabia, revela um novo estudo, recentemente pré-publicado no bioRxiv.
Segundo Matthias Fischer, coautor do estudo e virologista no Max Planck Institute,na Alemanha, muitas destas estruturas únicas são vírus completamente novos, ainda desconhecidos pela ciência.
Os vírus gigantes são notavelmente grandes, com dimensões que variam entre 0,2 e 1,5 micrómetros, e genomas complexos com até 2,5 milhões de pares de bases de DNA.
Em comparação, vírus comuns como o da gripe medem 0,08 a 0,12 micrómetros de diâmetro — menos de um décimo do tamanho dos vírus gigantes.
Tipicamente, estes vírus gigantescos infetam organismos unicelulares, como amebas, em vez de animais ou humanos. São encontrados em vários ecossistemas do planeta, desde oceanos e lagos no Ártico até ao permafrost em degelo da Sibéria.
O novo estudo estendeu uma pesquisa realizada em 2018 por um grupo distinto de cientistas, que, usando uma análise metagenómica, identificou vírus gigantes nos solos da Harvard Forest em Massachusetts.
A equipa de Matthias Fischer recolheu agora amostras de solo no mesmo local, que foram examinadas usando um microscópio eletrónico de transmissão — com a qual obteve detalhes intrigantes destes gigantescos vírus.
Segundo Fischer, enquanto os dados genómicos do estudo de 2018 permitiram inferir a natureza dos organismos, com as imagens microscópicas agora recolhidas é possível revelar a sua aparência real.
“O genoma de uma espécie apenas nos dá informação até um certo ponto, não nos permite perceber como é a sua aparência”, explicou Fischer ao Live Science. “Estes vírus gigantes têm uma grande diversidade não apenas nos seus genomas, mas na sua forma, tamanho e estruturas — e isso é uma descoberta completamente nova”.
Entre as notáveis descobertas, a equipa identificou um organismo semelhante a um vírus com uma casca de dupla camada e a forma distinta de estrela, à qual deu o nome de “morfotipo Estrela de Natal”.
Outra descoberta interessante foi o “morfotipo Corte de Cabelo” — organismos com tentáculos fibrosos de diferentes comprimentos e espessuras. O propósito destas estruturas únicas permanece incerto, mas Fischer considera que possam ajudar os vírus a ligarem-se mais eficazmente às células hospedeiras.
Segundo a equipa de investigadores, estes vírus provavelmente não são prejudiciais aos humanos, mas são cruciais para os ecossistemas — desempenhando um papel vital no ciclo do carbono e regulando populações microbianas que influenciam a transferência de carbono no solo.