Descoberto o buraco negro mais maciço da Via Láctea

ESO/L. Calçada

Conceito artístico do buraco negro BH3

O BH3 é o buraco negro estelar mais maciço até agora encontrado na Via Láctea e revelou-se aos investigadores através do poderoso puxão que exerce sobre uma estrela companheira que orbita o objeto na constelação de Aquila, a Águia.

Uma equipa internacional de astrónomos, que inclui investigadores portugueses, descobriu um enorme buraco negro, que se formou na sequência da explosão de uma estrela a apenas 2.000 anos-luz da Terra, anunciou esta terça-feira o Observatório Europeu do Sul (ESO).

Com uma massa 33 vezes superior à do Sol, o buraco negro, a que foi dado o nome de BH3, é o mais denso até agora encontrado na Via Láctea.

O enorme buraco negro, corpo denso de cuja gravidade nada escapa, nem mesmo a luz, foi detetado em dados da missão Gaia da Agência Espacial Europeia (ESA) através de um movimento de “oscilação” estranho que impõe à estrela que o orbita, refere o ESO em comunicado.

A descoberta fortuita é tão importante que os cientistas divulgaram os pormenores do objeto mais cedo do que o previsto, para permitir que outros astrónomos realizem mais observações o mais rapidamente possível, diz o jornal britânico The Guardian.

“É uma surpresa total”, disse o astrónomo Pasquale Panuzzo, membro da colaboração Gaia no Observatório de Paris. “É o buraco negro de origem estelar mais maciço da nossa galáxia e o segundo mais próximo descoberto até agora”.

“Este é o tipo de descoberta que se faz uma vez na vida“, acrescenta o investigador, citado pelo Phys.org.

Embora o BH3 seja mais maciço do que outros buracos negros estelares da Via Láctea, é semelhante a alguns dos revelados pelas ondas gravitacionais, ou ondulações no espaço-tempo, que são geradas quando os buracos negros colidem em galáxias distantes.

“Só tínhamos visto buracos negros desta massa com ondas gravitacionais em galáxias distantes”, disse Panuzzo. “Isto faz a ligação entre os buracos negros estelares que vemos na nossa galáxia e as descobertas de ondas gravitacionais.”

André Moitinho e Márcia Barros, investigadores e professores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, assinam o trabalho, publicado na revista Astronomy & Astrophysics.

Quando os investigadores estavam a rever as observações do Gaia, notaram uma oscilação distinta numa das estrelas de Aquila, uma constelação que é visível no céu de verão no hemisfério norte. O movimento sugeria que a estrela estaria a ser puxada por um enorme buraco negro.

Observações posteriores do Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul, no deserto chileno de Atacama, confirmaram a massa da BH3 e a órbita da estrela, que circunda o buraco negro uma vez em cada 11,6 anos.

Os dados recolhidos pelo telescópio VLT revelam que a companheira da estrela que orbita o buraco negro é pobre em metais, o que sugere, de acordo com os autores do trabalho, que “a estrela que colapsou para formar o BH3 seria também pobre em metais, tal como previsto pela teoria”.

As medições da estrela companheira do BH3 não encontraram sinal de que estivesse contaminada com material expelido pela explosão estelar que formou o buraco negro. A descoberta sugere que o buraco negro se formou muito antes de ter aprisionado a estrela companheira no seu poderoso campo gravitacional.

Os buracos negros estelares formam-se a partir da explosão de uma grande estrela e os da Via Láctea são, em média, menos densos do que o BH3 — têm cerca de 10 vezes a massa do Sol. Foram descobertos dezenas na Via Láctea.

O buraco negro mais impressionante da Via Láctea, Sagitário A, tem a massa combinada de vários milhões de sóis. Espreita no coração da galáxia e não se formou a partir da explosão de uma estrela, mas sim do colapso de vastas nuvens de poeira e gás.

Podem existir 100 milhões de buracos negros estelares na Via Láctea, mas apesar da sua vasta massa e das poderosas forças que geram, podem ser extremamente difíceis de detetar. “A maior parte deles não tem uma estrela a orbitar à sua volta, por isso são quase invisíveis para nós“, explica Panuzzo.

A missão Gaia, da ESA, foi lançada em 2013 e tem no espaço uma sonda para mapear a Via Láctea, galáxia onde se situa o Sistema Solar, de que faz parte a Terra.

ZAP // Lusa

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