Descoberto anel “impossível” à volta de um “primo” de Plutão do tamanho de Espanha

ESA

Concepção artística de Quaoar e seu anel. Ao fundo está Weywot (E) e o Sol (D).

Uma equipa de investigadores descobriu que Quaoar, um dos grandes objetos a orbitar para lá de Neptuno, tem um anel — e não é um qualquer. O anel recém-descoberto parece estar no lugar errado.

Os anéis planetários são observados não apenas em torno de planetas gigantes, como Saturno, mas também à volta de pequenos corpos como o asteroide 10199 Cáriclo e o planeta-anão Haumea.

Quaoar é uma rocha gelada do tamanho de Espanha, com 1.110 quilómetros de largura. Ela está localizada cerca de 43 vezes mais longe do Sol do que a órbita da Terra. O objeto mora no cinturão de Kuiper, onde também se localiza o seu “primo” Plutão, o maior deles.

Calcula-se que se trata de um planeta-anão, embora não seja classificado desta forma, uma vez que não reúne uma das condições necessárias para ganhar este título: o chamado equilíbrio hidrostático — ou, por outras palavras, ser aproximadamente esférico.

Quaoar parece ser rochoso e coberto por uma camada de gelo, tendo uma lua chamada Weywot, orbitando-o a cerca de 14.500 km.

A descoberta deste anel “impossível” levou os cientistas a sugerirem a revisão de uma teoria do século XIX que descreve a formação de anéis planetários no Sistema Solar. Da equipa de investigadores fazem parte os brasileiros Bruno Morgado, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Rafael Sfair, da Universidade Estadual Paulista.

O que os cientistas observaram é que o anel de Quaoar orbita a cerca de 3.545 km da superfície — mais perto que a sua lua, que orbita a 12.700 km. Os resultados do estudo foram publicados esta quarta-feira na revista Nature.

“O anel de Quaoar não está onde esperávamos”, diz Morgado ao site Inverse. Planetas e asteroides têm luas, anéis ou ambos. O chamado limite de Roche é uma explicação de porque é que um ou outro se forma, mas não justifica o anel em torno de Quaoar.

“Se há um satélite [natural] que vai dentro desse limite, o satélite vai partir e virar um anel… por causa das forças gravitacionais, das forças das marés”, explica Morgado. “E ao contrário, se há um anel que sai do limite de Roche, esse anel começará a aumentar e começa a tornar-se um satélite”.

O limite de Roche é precisamente a teoria que os autores do novo estudo sugerem que possa ter de mudar. Embora muito improvável, a equipa pode estar a ver o anel tornar-se uma lua.

“Pela primeira vez encontramos um contraponto a essa teoria que tem vindo a ser utilizada desde 1850. Essa descoberta revela-nos que o processo de formação de satélites deve ser mais complexo do que previamente imaginado e que precisamos de entender como é que o anel de Quaoar é estável tão longe dele, quais os efeitos que permitem que ele não esteja a tornar-se uma lua”, disse Bruno Morgado à Folha de S. Paulo.

Curiosamente, o anel revela um padrão irregular, com regiões mais densas e outras menos densas. Os cientistas esperam ainda uma composição por pedras de vários tamanhos, algumas com micrómetros e outras com quilómetros.

Daniel Costa, ZAP //

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