Descoberta uma nova forma de reverter a infertilidade. A chave está no colesterol

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Investigadores da Houston Methodist restabeleceram a fertilidade em ratos estéreis, reduzindo os seus níveis elevados de colesterol através de uma proteína bacteriana – reforçando assim a ligação entre o colesterol elevado e a infertilidade feminina.

“Estamos a trabalhar com uma proteína, chamada fator de opacidade do soro, com características únicas”, disse Corina Rosales, professora assistente de biologia molecular no Houston Methodist Research Institute e autora principal do estudo, publicado recentemente no Journal of Lipid Research.

“Nas nossas experiências, o fator de opacidade do soro reduziu os níveis de colesterol em mais de 40% em três horas. Portanto, esta proteína é bastante potente”, explicou a investigadora, citada pelo Sci Tech Daily.

Embora a função primária desta proteína seja aumentar a colonização bacteriana, também altera a estrutura das lipoproteínas de alta densidade portadoras de colesterol, ou HDL, tornando mais fácil para o fígado eliminar o excesso de colesterol que impede a sua conceção.

Os investigadores também notaram que a ação do fator de opacidade do soro no HDL pode ser aproveitada como uma potencial alternativa às estatinas, que são o padrão atual para baixar o colesterol em pessoas com aterosclerose.

O HDL, conhecido como o “bom colesterol”, transporta o excesso de colesterol de diferentes tecidos para o fígado, para que este se decomponha, baixando assim os níveis de colesterol.

Contudo, se houver disfunção do HDL, o metabolismo lipídico é alterado, o que pode ser prejudicial, como a sua contraparte LDL, ou lipoproteína de baixa densidade. Muitas vezes chamado “colesterol mau”, o LDL transporta o colesterol do fígado para outros tecidos, com níveis elevados a causar acumulação e doenças.

“Tanto os HDL como os LDL contêm uma mistura de colesterol livre e esterificado, e sabe-se que o colesterol livre é tóxico para muitos tecidos”, disse Henry J. Pownall, professor de bioquímica em medicina no Houston Methodist Research Institute.

“Assim, qualquer disfunção no HDL pode ser também um fator de risco para várias doenças“, indicou o investigador, um dos autores do estudo.

Para estudar a disfunção do HDL, os investigadores trabalharam com modelos pré-clínicos de ratos que tinham níveis anormalmente elevados de colesterol HDL. Embora isto os tornasse ideais para estudar a aterosclerose, Corina Rosales observou que estes ratos também eram completamente estéreis.

“O colesterol é a espinha dorsal de todas as hormonas esteróides, e é necessária uma orquestra de hormonas para se ter um animal fértil. Sabemos que os ovários estão repletos de recetores para o HDL, pelo que o metabolismo do HDL tem de desempenhar um papel muito importante na fertilidade por essa razão”, explicou.

Como previsto, quando os investigadores alimentaram os ratos estéreis com um fármaco para baixar os lípidos, tanto os níveis de colesterol LDL como HDL foram reduzidos, e os animais passaram temporariamente a ser férteis.

Motivados por estes resultados, os investigadores voltaram-se para o fator de opacidade da proteína bacteriana sérica, conhecida por ser altamente seletiva para o HDL.

“O fator de opacidade do soro é conhecido principalmente no contexto de infeções por estreptococos bacterianos, onde serve como fator de virulência. Mas também descobriu-se que esta proteína só reage ao HDL e não ao LDL ou outras lipoproteínas. Imaginámos que talvez administrar o fator de opacidade do soro a estes ratos pudesse ajudar a restaurar a sua fertilidade, também”, indicou Corina Rosales.

Noutra fase da investigação, a equipa criou um vírus para fornecer o gene do fator de opacidade do soro aos ratos sem recetores HDL, que tinham colesterol elevado. Quando o gene foi expresso e a proteína bacteriana foi produzida, o colesterol HDL dos animais diminuiu significativamente e a sua fertilidade foi restaurada.

Com base nestes resultados pré-clínicos promissores, o próximo plano dos investigadores passa por conduzir um estudo clínico para investigar os níveis lipídicos em mulheres submetidas a tratamentos para infertilidade idiopática, onde as causas subjacentes não são totalmente conhecidas.

Se essas pacientes tiverem níveis elevados de HDL, então os investigadores podem considerar que o fator de opacidade do soro pode ser uma linha de tratamento futuro.

“Mesmo que ajudássemos 1% das mulheres com dificuldades em conceber, seria uma mudança de vida para elas, e penso que é aí que podemos ter maior impacto com a nossa investigação”, disse Corina Rosales.

ZAP //

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