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Arqueólogos fazem “descoberta do Século” no Tejo (e tem pimenta)

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Augusto Salgado / Lusa

A nau terá naufragado entre 1575 e 1625 e é considerada a “descoberta do século”

Uma equipa de arqueólogos da Câmara Municipal de Cascais, do Projeto Municipal da Carta Arqueológica Subaquática do Litoral, descobriu uma nau que terá naufragado entre 1575 e 1625, e que é considerada a “descoberta do século”.

A descoberta, feita num mergulho junto ao ilhéu do Bugio, no rio Tejo, no passado dia 03 de setembro, resultou do Projeto da Carta Arqueológica Subaquática de Cascais (ProCASC), aprovado pelo município em 2005, e que tem por objetivo recolher todo o tipo de informação histórica, numa campanha de investigação subaquática.

O diretor científico do ProCASC, Jorge Freire, explicou que os vestígios da nau foram encontrados a uma profundidade média de 12 metros, junto ao Bugio, e abrangem uma área aproximada de 100 metros de comprimento por 50 metros de largura.

“Vê-se o escudo de Portugal, a esfera armilar, portanto, por aí, estamos seguramente a falar de um achado de desígnio nacional muito semelhante àquilo que foi a Nossa Senhora dos Mártires – nau portuguesa também do Caminho das Índias, descoberta em 1994 -, utilizada como motivo da Expo98, só com uma diferença, porque esta está em melhor estado de conservação, daquilo que nos é possível ver à superfície. A área também é muito maior do que foi exumado na Nossa Senhora dos Mártires”, afirmou o diretor e mergulhador do projeto.

Alguns dos artefactos, que estavam em perigo de ser perdidos, foram recolhidos e colocados em água nas reservas municipais, informou a autarquia. Entre eles é possível encontrar faiança, pimenta da Índia e uma tampa em bronze. Segundo Jorge Freire, esta descoberta é “diferente das outras”, uma vez que foi feita em “ambiente científico”.

“A maior parte das descobertas no país foram feitas por achado fortuito, a maior parte das descobertas em Cascais, e esta em particular, foram feitas em ambiente científico. O que estamos a fazer neste momento é mapear todos os achados que estão à superfície, para termos um diagnóstico daquilo que está visível, para ver qual a evolução do sítio em termos de sedimentação, e perceber a própria dinâmica do sítio”, esclareceu.

De acordo com o Expresso, foram identificados nove canhões em bronze marcados com o escudo nacional ou com a esfera armilar, fragmentos de pratos de porcelana chinesa da época Wanli (1573-1619), grãos de pimenta, cauris (moluscos usados como moedas) do tráfego de escravos e partes do casco.

Augusto Salgado / Lusa

A “descoberta do século”

Para o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras (PSD), em declarações à agência Lusa, esta é “uma das descobertas arqueológicas mais significativas da última década”.

“O reconhecimento feito pela própria comunidade científica de que se trata da descoberta da década, do século, em termos de arqueologia marítima, é para nós uma grande satisfação. [Assim como] a possibilidade de a termos feito também em conjunto, num programa que não envolve só a Marinha Portuguesa como a Direção-Geral do Património Cultural, a Câmara Municipal de Cascais e os técnicos da Câmara Municipal de Cascais, assim como a Universidade Nova de Lisboa”, afirmou Carlos Carreiras.

Segundo o diretor do ProCASC “brevemente” a nau irá transformar-se num campo-escola, para a formação académica de alunos das universidades.

“Temos uma ausência de campos para formar arqueólogos e a nau vai ser transformada, nesse sentido, porque está lá a nau e um conjunto de navios de outras cronologias muito perto deste sítio, que também necessitam de ser intervencionados, e vamos juntar-nos num planeamento. Temos um programa pré-definido para isto, que terá subjacente este campus universitário. Em breve estará em funcionamento”, acrescentou.

De acordo com Jorge Freire, o campo-escola será criado através da Cátedra UNESCO “O Património Cultural dos Oceanos”, tutelada pelo Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a Marinha Portuguesa e a Direção-Geral do Património Cultural.

ZAP // Lusa

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