Derrota com sabor a vitória. Com um perfil impulsionado, o que reserva o futuro de Carneiro?

Nuno Veiga / LUSA

José Luís Carneiro

Carneiro conseguiu um dos melhores resultados na história do PS para uma candidatura perdedora e promete continuar a trabalhar para o partido e para o país. Fala-se numa possível candidatura à autarquia do Porto.

“Há um mês, parti sozinho para esta candidatura”. Foi com estas palavras que José Luís Carneiro reagiu à sua derrota nas eleições internas no PS, no Largo do Rato. E se foi nesse mesmo Largo do Rato que lançou sozinho a sua candidatura, esta realidade espelhou-se no seu fim.

Pelo meio, coleccionou vários apoios de rostos influentes do costismo — como Fernando Medina, José Vieira da Silva e Augusto Santos Silva — e provou ser um lobo em pele de carneiro para Pedro Nuno Santos, conquistando 36% dos militantes numa corrida que já era tida como “no papo” antes do tiro de partida.

Desde o início que o seu confronto com Pedro Nuno Santos adivinhava ser uma batalha de David contra Golias, com o ex-Ministro das Infraestruturas a ter um favoritismo óbvio após ter passado os últimos anos a cortejar o aparelho do partido e a afirmar-se calmamente como o proto-candidato na linha da frente da sucessão a António Costa.

Por outro lado, José Luís Carneiro era um homem forte da máquina socialista, mas um desconhecido para a maioria dos portugueses. Ganhou mais relevância no plano nacional em Março de 2022, quando assumiu a pasta da Administração Interna, mas manteve-se discreto.

Talvez tenha sido esse mesmo discretismo que o ajudou na campanha, já que foi um dos poucos a escapar ileso de um Governo maioritário do PS que ficou manchado por vários escândalos — com Pedro Nuno Santos inclusive a protagonizar um deles, com a polémica autorização à indemnização da TAP a Alexandra Reis.

E, dado o seu perfil sereno e com pouco protagonismo, o apoio significativo que conseguiu reunir dentro do PS em apenas um mês é impressionante. Carneiro teve uma maior percentagem de apoio do que Francisco Assis teve quando concorreu contra António José Seguro (32%), e mais do que Seguro teve contra António Costa nas primárias de 2014 (30%).

Não será por isso de estranhar que, apesar da derrota expressiva, Carneiro tenha ficado com um trago de vitória. No seu discurso, começou por enaltecer “o notável resultado” da sua campanha, que “teve um dos mais elevados resultados das candidaturas não ganhadoras que se desenvolveram até hoje” no PS.

E garantiu novamente que continua disponível para “trabalhar no PS” e “servir o partido e o país”. Significa isto que Carneiro vai ficar nas sombras e avançar contra Pedro Nuno Santos se a sua liderança começar a descarrilar? Ou, por outro lado, integraria um Governo de Pedro Nuno? Ou será que está a mirar uma candidatura à Câmara Municipal do Porto, como se fala dentro do PS?

Pressionado sobre todos estes cenários, Carneiro prefere não responder e passa a batata quente para as mãos do novo líder. Afinal, é a ele que cabe “assegurar a unidade e a pluralidade”. “Estaremos sempre atentos e disponíveis para colaborar no reforço do PS”, reafirma.

Mesmo assim, o Ministro da Administração Interna deixa um aviso contra quaisquer purgas aos seus apoiantes. “A nossa candidatura foi mais do que a secretário-geral, foi um amplo movimento de proposta política e defesa do PS como pilar essencial do nosso sistema democrático”, frisa, realçando que este movimento provou ser um “factor essencial de diálogo com a sociedade portuguesa” e que, como tal, merece ser “integrado” no PS.

Questionado sobre se esta candidatura lhe deu “capital político para o futuro”, Carneiro torna a ser evasivo. “Isso, agora, os senhores é que têm de fazer essa ponderação”, respondeu aos jornalistas.

Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: Carneiro vai andar por aí.

Adriana Peixoto, ZAP //

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