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299 alegadas vítimas, abusadas sexualmente em 10 hospitais e clínicas ao longo de 25 anos — tudo por causa de um único médico.
Começou em em Morbihan, na Bretanha, o julgamento do cirurgião gastrointestinal reformado Joel Le Scouarnec, acusado de ter abusado sexualmente durante quase 3 décadas de pacientes menores. As vítimas serão 299, e foram abusadas em 10 hospitais e clínicas diferentes.
O cirurgião de 74 anos estava já a cumprir uma pena de 15 anos por violação e abuso de crianças. O médico terá continuado a trabalhar em instituições públicas e privadas mesmo após ter sido condenado por posse de imagens de abuso de crianças em 2005, segundo revela a CNN.
Foi ainda condenado em 2020 por ter abusado das suas sobrinhas e de uma vizinha à porta de um hospital.
Este é o segundo julgamento num espaço de semanas relacionado com abuso sexual que abalu a França, após o caso de Gisèle Pelicot, drogada e abusada durante vários anos pelo próprio marido, que se tornou um símbolo das vítimas de abuso sexual um pouco por todo o mundo.
As buscas no gabinete de Scouarnec revelaram os diários e cerca de 70 bonecas, com quem o cirurgião terá “partilhado a sua vida quotidiana” antes de ser preso: dava-lhes nomes, vestia-as e utilizava-as para o seu prazer sexual.
“Não tinha qualquer empatia, qualquer emoção, qualquer sentimento em relação a um pequeno ser humano, que ele considerava literalmente como um objeto sexual”, diz Francesca Satta, advogada da acusação.
No seu diário, descreve os abusos que praticava, admitindo que os dissimulava com supostos exames médicos. Dirigia-se inclusivamente às vítimas pelo nome quando escrevia.
“Pequena Marie, estavas de novo sozinha no teu quarto”, começa um relato. Despedia-se após descrições de atos sexuais com crianças com “Amo-te”.
“Temos vítimas em sofrimento real e genuíno. Temos pessoas anoréticas, deprimidas, que não podem ter filhos, que não podem ter relações sexuais com o seu parceiro”, diz a advogada. Entre os seus representados contam-se duas famílias de homens que terão sido abusados por Le Scouarnec e que se suicidaram anos mais tarde.
“Disse-lhe que ele era perigoso e que o seu lugar não era no hospital. Pedi-lhe que se demitisse”, disse à CNN um médico que realizou em Scouarnec exames psiquiátricos.
Depois de um longo silêncio, com a cabeça entre as mãos, Le Scouarnec respondeu: “Não me pode obrigar”.