As razões daquele que é considerado o pior evento de extinção em massa da Terra, que ocorreu há 250 milhões de anos, não estão totalmente esclarecidas, mas um novo estudo reforça o papel do aquecimento global nesse acontecimento e alerta para os riscos de voltar a suceder o mesmo, na nossa era.
Há várias teorias sobre o que provocou o grande evento de extinção em massa que aniquilou cerca de 90% das espécies da Terra, há 250 milhões de anos, passando pela queda de um meteorito até mega-erupções vulcânicas.
Mas uma nova investigação levada a cabo por cientistas de Canadá, Itália, Alemanha e EUA apurou que afinal, foi tudo culpa do aquecimento global.
Este estudo publicado no jornal Palaeoworld salienta que, na altura, durante o chamado período Permiano, o aquecimento global generalizado do planeta levou as temperaturas médias a chegarem aos 29 graus centígrados, enquanto actualmente, rondam os 15 graus.
Esta pesquisa considera que erupções vulcânicas verificadas no fim do Permiano provocaram o aumento do dióxido de carbono no ar, o que levou ao aumento das temperaturas em 8 graus centígrados.
Isto provocou que grandes quantidades de metano que se encontravam no permafrost, ou pergelissolo, ou seja, o tipo de solo permanentemente gelado que se encontra no Ártico, e no leito do mar se fundissem, provocando o aumento das temperaturas até níveis “letais para a maioria da vida na terra e nos oceanos”, consideram os investigadores.
“Com base em medições de gases presos na calcite [mineral] biogénica e abiogénica, a libertação de metano (de 3%-14% do total C) do permafrost e do metano hidratado [o seu estado gelado] dos sedimentos marinhos é considerada a última fonte e causa da mudança dramática para a vida do aquecimento global” que se observou no fim do período Permiano, atesta-se no estudo.
“O aquecimento global despoletado pela libertação massiva de dióxido de carbono pode ser catastrófico, mas a libertação de metano hidratado pode ser apocalíptica“, consideram os mesmos cientistas.
Isto significa que se a emissão de dióxido de carbono cumpriu um papel importante no grande evento de extinção em massa, foi o degelo que deveras, foi protagonista para aquele desfecho, conclui esta pesquisa.
Os cientistas concluem, deste modo, que a história do fim do Permiano “abarca uma importante lição para a humanidade“, especialmente no capítulo das emissões de gases com efeitos de estufa, do aquecimento global e das alterações climáticas, assuntos que nos são tão caros na actualidade.
E se há cientistas que encaram esta investigação intitulada “Hidrato de Metano: a causa fatal da maior extinção em massa da Terra” como demasiado fatalista, há também quem reconheça que estamos perante uma “ameaça muito real e muito séria” e que “tem sido desvalorizada pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas”, como reconhece o professor Peter Wadhams, director do Grupo de Física do Oceano Polar da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Em declarações ao jornal The Independent, Wadhams considera que “se houver uma libertação grande de metano, que é agora possível devido à instabilidade dos hidratos de metano por baixo dos sedimentos continentais árcticos, isso poderá, facilmente, dar origem a um impulso muito grande” nos níveis de temperatura do planeta, com as inerentes consequências indesejadas em termos de aquecimento global.
Com “uma libertação de 50 giga-toneladas, cerca de 8% do metano hidratado”, verificar-se-ia uma subida imediata de “0,6° C de aquecimento global, o que é de facto um muito grande impulso”, alerta Wadhams.
Sérios avisos que não podem deixar a comunidade científica, nem os governos mundiais indiferentes, tanto mais quando o gelo nos pólos atingiu o valor mais baixo de sempre, desde que há registos.
Correção graus celsius, centigrada é a escala.