Ventura vs. Tavares – ou bar aberto vs. detetor de mentiras

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ZAP // Manuel de Almeida, Manuel Fernando Araújo / Lusa

Debate iria começar sobre saúde, presidente do Chega falou logo sobre imigração. Porta-voz do Livre alertou para uma “enorme injustiça”.

O presidente do Chega acusou o Livre de querer transformar o Serviço Nacional de Saúde num “bar aberto”, insistindo em restrições para imigrantes, e Rui Tavares contrapôs que tal seria uma “enorme injustiça” para quem trabalha no país.

Num frente-a-frente com alguns momentos tensos, e no qual os dois protagonistas se interromperam várias vezes, o presidente do Chega, André Ventura, foi questionado sobre o setor da Saúde mas acabou por introduzir no debate o tema da imigração, depois de hoje ter sido divulgado que o número de imigrantes no país rondará os 1,6 milhões.

André Ventura argumentou que o aumento da população imigrante contribui para “o caos na saúde” e voltou a defender que os portugueses devem ter “acesso privilegiado” ao SNS em detrimento destes cidadãos – cujas contribuições à Segurança Social atingiram um recorde de 3,6 mil milhões de euros em 2024.

“O Rui Tavares quer um Serviço Nacional de Saúde que seja bar aberto. Independente de terem contribuído ou não. Nós exigimos que quem venha para cá tratar-se tenha que ter pago alguma coisa ao serviço de saúde português”, argumentou Ventura, que defende que um imigrante tenha um mínimo de cinco anos de contribuição antes de aceder a cuidados de saúde.

Neste debate na RTP, o porta-voz do Livre Rui Tavares contrapôs que “o SNS neste momento funciona com imigrantes, muitas vezes”.

“Seria a maior injustiça dizer «vens para cá, ajudas o Serviço Nacional de Saúde, pagas impostos para o Serviço Nacional de Saúde, trabalhas no Serviço Nacional de Saúde, mas não és atendido cá». Seria uma enorme injustiça dizer a uma criança que não escolheu nascer filha de português ou de imigrante e que vive no nosso país e que chegou aqui com dois ou três anos, como muitos filhos de portugueses”, argumentou.

Argumentando que o SNS “está a lutar com uma venda nos olhos e com as mãos atadas atras das costas”, Tavares defendeu que a lei deve obrigar os privados da saúde a tornar públicas as mesmas informações que o SNS, e propôs um “Programa Regressar” para a saúde, com incentivos para o regresso ao país de profissionais de saúde emigrados.

Outros temas

Na economia, primeiro sobre o IVA zero no cabaz alimentar – agora proposto pelo PS mas que já foi proposta do Chega no final de 2023 – André Ventura diz que esta é uma proposta original do Chega e acusa o PS de ser “um partido irresponsável e eleitoralista”.

“Em dezembro de 2023 o Chega é que propôs que o cabaz alimentar tivesse iva zero. Na altura o PS votou contra porque estava no governo e agora está na oposição”, afirmou.

Logo a seguir, Rui Tavares deixou uma sugestão diferente a todos os portugueses: serem uma espécie de detetor de mentiras: “Se eu for a identificar e a desmontar cada mentira de André Ventura em todos estes debates, não fazia outra coisa e não teria tempo para passar as minhas próprias ideias e soluções para o país. Convido as pessoas a verem os sites de verificação de factos a seguir ao debate. A mentira não deve ter lugar na política em Portugal. De cada vez que virem uma mentira de André Ventura – ou de qualquer outro – por favor, divulguem, enviem aos vossos amigos”.

O líder do Chega criticou a ideia do Livre de dar 5 000 euros a cada bebé “que nasça em Portugal”, partido que quer “um país de subsidiodependentes”. “Podem vir para cá de comboio, sacam 5000 aos portugueses”, atirou o líder do Chega. Rui Tavares explicou o que o Livre quer: “Uma nova geração de políticas sociais, uma medida que sairá mais barata do que, por exemplo, o IRS jovem, e que permite introduzir justiça no caminho da vida das pessoas quando entram na vida adulta”.

Enquanto acusava Rui Tavares de não responder às suas perguntas, André Ventura voltou a colocar-se noutro patamar em relação ao adversário e o tamanho do grupo parlamentar do adversário: “Sou candidato a primeiro-ministro, o Rui Tavares só luta por três ou quatro deputados. Um dia poderá ser candidato a primeiro-ministro, o país muda muito!”, mas atirando mais tarde que o Livre é “um partido de nicho”.

O presidente do Chega alegou que os seus 50 deputados, apesar de não entrarem nas contas para formar Governo, permitiram acabar com portagens, alterar o IRS Jovem e mudar políticas de imigração.

Já sobre as tarifas impostas pela administração norte-americana de Donald Trump a vários países, incluindo da União Europeia, interrogado sobre se já se arrependeu de ter apoiado o republicano, Ventura respondeu que Trump está a fazer nos EUA o que a Europa devia fazer também.

“Ou protegemos a Europa da China, da Índia e de mercado exterior, ou protegemos a nossa agricultura, os nossos trabalhadores, a nossa indústria automóvel, ou vamos acabar um reduto da China, da Índia, e desses países. O Donald Trump está a fazer nos Estados Unidos o que nós temos que fazer na Europa. Proteger os nossos trabalhadores”, advogou.

Ventura repetiu uma adaptação do mote de Trump que quer “fazer Portugal grande novamente”.

“Eu sei que o Livre não acredita nisso, mas eu acredito. Nós temos uma história de nove séculos. A nossa história não é para ser deitada fora em cultura «woke» e LGBTQIA+, como o Livre quer”, atirou.

Por seu turno, Rui Tavares salientou que as tarifas de Trump vão prejudicar “mais ainda aqueles que são mais pobres” e advogou que é preciso “andar pelo país” e dizer aos trabalhadores portugueses de setores como o azeite, a cortiça ou o vinho, que serão afetados por esta medida, “quem esteve do lado de Trump”. E espera que o presidente dos EUA “não se lembre que os Açores existem”.

Ventura acusa Tavares de querer os EUA fora da NATO e de esperar que os “amigos” do Livre, como Venezuela ou Irão, ajudem Portugal na Defesa.

Os dois acabaram a falar ao mesmo tempo um com o outro, ignorando as despedidas do moderador Hugo Gilberto, enquanto Rui Tavares repetia que André Ventura estava em fase de “delírio”. Os dois microfones foram silenciados.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. Como é que um homem sério e educado como o Rui Tavares pode dialogar com um sujeito como Ventura que não respeita ninguém e mente com todos os dentes que tem? Não pode! Eu sugiro que todos os líderes partidários se recusem a participar em debates com Ventura. Há que elevar o nível da discussão no país.

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