Rio Negro, em Manaus, alcançou o seu nível mais baixo em 117 anos de registos, estando quatro centímetros abaixo do recorde negativo anterior, registado em 2010. Sem via fluvial, comunidades ribeirinhas ficam isoladas — e não é só a floresta no Amazonas que precisa de ajuda.
Com um guarda-chuva na mão, Maciel Oliveira, de 19 anos, caminha durante duas horas sob um sol abrasador por dunas de areia fina e clara, num cenário que se assemelha a um deserto. No entanto, há dois meses, neste mesmo local, ele atravessava o rio Solimões a bordo de uma rabeta, como são conhecidas as canoas motorizadas típicas e omnipresentes na Amazónia.
Atualmente muitas delas permanecem encalhadas ou abandonadas, à espera que os rios voltem a encher. Algo que, na opinião de especialistas, não deverá ocorrer antes de dezembro, sinalizando não apenas a estiagem mais forte na floresta, mas também a mais prolongada.
Oliveira faz esta travessia todos os dias para auxiliar um amigo que vive na outra margem e que não tem condições de romper o isolamento imposto pela emergência climática do ano que poderá vir a ser o mais quente da história. “É um sofrimento que nunca tínhamos passado, mas ele precisava desse peixe”, relata.
Dos 62 concelhos da Amazónia, 60 deles têm a sede e quase a totalidade das comunidades rurais das suas áreas à margem de rios, ribeiros e lagos. A extensa dependência da população destes cursos de água explica por que é que a crise não é apenas ambiental, mas a crise humanitária mais grave vivida recentemente na Amazónia Ocidental.
Até mesmo a segurança alimentar da população está a ser ameaçada, com alimentos a terem que vir de longe devido à dificuldade de produção em muitas localidades. Face ao cenário, o governo estadual já pondera remover comunidades inteiras que vivem da agricultura familiar nas áreas de várzea dos principais rios do estado devido às alterações climáticas.
O governo federal estima que cerca de 500 mil pessoas serão afetadas pela seca deste ano na região Norte. De acordo com o secretário do Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira, a seca mais intensa e prolongada pode tornar inviável a manutenção da agricultura familiar realizada tradicionalmente em áreas férteis nas margens dos rios.
“Vamos ter de adaptar todo o ciclo de uso de determinadas culturas, como da mandioca, e culturas de hortícolas, para uma realidade de terra firme, dependente de fertilizantes e outros insumos dispendiosos”, diz.
O lago de Tefé, antes um santuário de duas espécies de boto ameaçadas de extinção — o boto vermelho e o tucuxi — foi o palco de uma das maiores tragédias da fauna amazónica nesta seca. Cerca de 10% da população local de 1.500 animais morreram entre o final de Setembro e o início de Outubro. Investigadores de todo o país, liderados pelo Instituto Mamirauá, desenvolveram uma força-tarefa para resgatar os animais mortos ou vivos sob stress, em busca de respostas para a mortalidade.
Apesar de ser o principal rio da região, e o maior do mundo, o Solimões não é o único afetado. Todos os grandes rios da floresta, afluentes do Amazonas, sofrem com a seca atual. O rio Madeira está a 30 centímetros do nível mais baixo já registado, prejudicando a atividade das hidroelétricas na sua extensão. Jirau continua a funcionar com 15% da sua capacidade, enquanto Santo António está desligada desde o início de Outubro.
Já o rio Negro, em Manaus, alcançou o seu nível mais baixo em 117 anos de registos, estando quatro centímetros abaixo do recorde negativo anterior, registado em 2010.
Ar tóxico vem do “Arco de Fogo” e da desflorestação
A maior fonte de emissões de gases de efeito de estufa no Brasil não ocorre nas grandes cidades, mas sim com a desflorestação e queima de ecossistemas naturais, especialmente a Amazónia.
Este ano há uma grande probabilidade de ocorrerem grandes incêndios florestais que devastarão a floresta muito mais rapidamente do que a própria desflorestação.
Nas últimas semanas, Manaus tem revelado ao mundo a dimensão do problema. No coração da floresta e a milhares de quilómetros do chamado “Arco de Fogo”, onde normalmente se concentram as queimadas, a capital do Amazonas tem adormecido e acordado com uma camada de fumo sobre a cidade.
Com o combate aos mais de 500 focos de incêndio apenas nos arredores tornando-se inviável de ser feito com eficiência, as autoridades recomendam o uso de máscaras e pedem que a população evite exercícios físicos ao ar livre. Algo impossível para as centenas de trabalhadores que ganham a vida a carregar e descarregar produtos no porto que se tornou, esta semana, o segundo mais tóxico do mundo devido à poluição.
Esmagada entre a seca, o calor, a falta de água e de luz, e incêndios, a população agora depara-se com filas em serviços de saúde focados em doenças respiratórias que aumentaram até 40%. Não é apenas a floresta no Amazonas que precisa de ajuda.
// DW
Já há 40 anos quando meu pai esteve de visita na Amazõnia esse acontecimento existia. Portanto nada de novo.
Mais um caso de consequências de eleitorado ignorante a votar em politico dirigente ganancioso. Chamem Bolsonaro que ele mais os amigos madeireiros resolvem,
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