Encontrada de cabeça para baixo e com o tornozelo preso com uma espécie de cadeado, quem enterrou a criança temia que esta voltasse ao mundo dos vivos.
Arqueólogos da Universidade Nicolau Copérnico, na Polónia, encontraram na cidade de Pién os restos de uma sepultura invulgar do séc. XVII.
A criança estava enterrada num cemitério não identificado, de cara para baixo e presa por um cadeado — como se houvesse a possibilidade de fugir.
Segundo os envolvidos na escavação, o curioso, macabro funeral da criança — com uma idade compreendida entre os cinco e os sete anos — tratou-se mesmo de uma superstição.
As famílias mais supersticiosas tinham “protocolos de segurança” na altura dos enterros, só para o caso de os corpos dos seus familiares acordarem como mortos-vivos, numa altura em que, explica um dos arqueologistas da escavação Dariusz Polinski, a histeria dos vampiros crescia na Polónia.
“O cadeado debaixo do pé simboliza um encerramento de uma fase da vida e é destinado a proteger contra o regresso dos mortos, que provavelmente era temido”, afirmou Polinski, explicando aquilo que são atos “anti-vampíricos”.
A cabeça para baixo também foi explicada: caso acordassem, os mortos começavam a morder o chão, ao invés dos vivos acima da superfície. Cortar a cabeça ou as pernas dos mortos, queimá-los ou esmagá-los com pedras eram outras “maneiras de proteção contra o regresso dos falecidos”, afirma o arqueólogo.
A necrópole (do grego antigo, nekropolis, que significa, literalmente, “cidade dos mortos”) onde foi encontrado este corpo é a casa de milhares de cadáveres do séc. XVII. No local, outros corpos já foram encontrados em condições semelhantes.
Um desses casos remete para a descoberta de uma “vampira” encontrada com uma foice à volta da cabeça, num cenário em que o cadeado — neste caso do dedo do pé — também não faltou à festa.
Professor Dariusz Poliński from the Nicholas Copernicus University explained:
🗣 ‘The sickle was not laid flat but placed on the neck in such a way that if the deceased had tried to get up most likely the head would have been cut off or injured’ pic.twitter.com/i39PdBOvgx
— Metro (@MetroUK) September 5, 2022
Caso a mulher acordasse, a foice tinha só uma função: decapitá-la de imediato.
A ascensão dos mortos-vivos polacos
A mitologia sobre o regresso dos mortos ao mundo vivo remonta à antiguidade, mais especificamente à Europa Oriental, onde registos de mitos sobre mortos-vivos são datados até ao século XI.
Embora tenham sido espalhadas durante séculos, estas histórias atingiram um ponto de ebulição nos séculos XVII e XVIII, segundo o All That’s Interesting, onde o medo dos mortos-vivos causou intensa comoção em certas regiões, levando até à execução em massa de vampiros acusados.
No século XVII, a crença em vampiros era disseminada em muitas partes da Europa, incluindo na Polónia. Quem acreditava nas lendas polacas acreditava também no “upiór” ou “vampir”, entidades noturnas que saíam dos túmulos para sugar o sangue dos vivos. A histeria relacionada a vampiros levou a práticas como a de enterrar os mortos com estacas de madeira a atravessar o coração ou de colocar pedras pesadas sobre os túmulos, para impedir que os mortos se levantassem.
Tais práticas eram influenciadas por surtos de doenças e mortes inexplicáveis, frequentemente atribuídas a atividades de vampiros. A falta de conhecimento médico levava a interpretações sobrenaturais para fenómenos naturais. Por exemplo, os corpos desenterrados apresentavam sinais de decomposição que eram mal interpretados como indícios de vampirismo, como unhas e cabelos “crescidos”.