Mesmo com o aumento de casos, covid-19 é três vezes menos agressiva do que há um ano

Os casos de covid-19 têm vindo a aumentar de dia para dia, o que está a causar alguma preocupação aos especialistas de saúde pública mas também ao Governo, que esta sexta-feira volta a ouvir os peritos em mais uma reunião do Infarmed.

Com o Natal quase a chegar, a adoção de algumas medidas restritivas está em cima da mesa. O regresso do uso da máscara na rua, a lotação de espaços, a testagem massiva ou o controlo de fronteiras foram algumas das medidas defendidas por alguns especialistas.

Contudo, escreve o Jornal de Notícias, a severidade da covid, face há um ano, é cerca de três vezes inferior. Ainda assim, se a curva não for “achatada” o país pode chegar ao fim de dezembro com cerca de seis mil novos casos diários, alerta Carlos Antunes, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

O especialista ressalva que apesar da preocupação atual, o país tem hoje 5% dos casos em Unidades de Cuidados Intensivos quando há um ano eram 15%. Relativamente ao nível dos internamentos, verifica-se agora que os internados são 1,3% dos casos ativos contra 3,9% há um ano. Desta forma, Carlos Antunes destaca que Portugal tem agora “uma severidade três vezes inferior” à do ano passado. Em declarações ao JN explica que estes dados se devem ao facto da cerca de 86% da população se encontrar vacinada.

Segundo a análise do matemático, os óbitos, que se centram nas pessoas com mais de 70 anos, também “caem para metade”.

No entanto, apesar das diferenças evidentes no que diz respeito à severidade do vírus, parece certo que para a semana o país entra em risco elevado, com a incidência nacional a passar os 240 casos/100 mil habitantes.

Os dados refletem a necessidade de haver uma intensificação dos cuidados. O reforço vacinal dos mais vulneráveis já está em curso, mas brevemente poderá haver um regresso da máscara em espaços fechados e no exterior em determinadas situações, tal como a possível revisão da lotação dos espaços e aposta na testagem. Porque “um crescimento exponencial trava-se quando está no início, o R tem de vir para baixo”, destaca Carlos Antunes. Caso contrário, alerta, podemos chegar ao Natal com seis mil novos casos diários.

Uma das medidas já avançadas pelo Governo para tentar achatar a curva de casos é o reforço da vacinação para quem tomou a vacina da Janssen.

Numa conferência de imprensa conjunta entre a DGS e o Infarmed, Graça Freitas anunciou que quem recebeu a vacina da Janssen, vai tomar uma dose de reforço da Pfizer ou da Moderna.

Esta decisão é justificado pelo facto de ao fim de três meses, prazo a partir do qual deve ser feita a dose de reforço, segundo as indicações da Direção-Geral da Saúde (DGS), a proteção desta vacina proteção diminui de 67%, que é a eficácia observada duas semanas após a toma, para “metade ou menos”, referiu ao Expresso Manuel Carmo Gomes, epidemiologista que integra a comissão técnica de vacinação contra a covid-19 da DGS.

Com o reforço, que terá de ser feito obrigatoriamente com uma vacina de mRNA, cumprindo as indicações da DGS, a proteção subirá para níveis semelhantes aos de vacinas como a da Pfizer e da Moderna, isto é, “acima de 80%”, reforçou o especialista em saúde pública.

Infeções com covid-19 têm característica “sazonal”

A Covid-19 apresenta características sazonais, com duas ondas anuais no inverno e no verão, estando a começar agora a vaga do inverno do próximo ano, afirmou à Lusa o especialista Henrique Barros.

“Temos dois anos de infeção. Isso já nos permite perceber que a infeção tem uma característica sazonal. Na realidade, tivemos duas ondas no primeiro ano, a de inverno e de verão, e tivemos duas ondas neste ano. Agora irá começar a onda do inverno do próximo ano”, adiantou o presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Segundo o médico e um dos peritos que nesta sexta-feira intervém na reunião no Infarmed de avaliação da situação da epidemia em Portugal, o vírus continua a circular com um “caráter de sazonalidade” no inverno, por ser um período típico das doenças respiratórias, mas também no verão, devido à grande mobilidade nessa altura do ano.

Apesar disso, Henrique Barros salientou que, no próximo inverno, a pandemia “não atingirá nunca” a situação registada no início deste ano, mesmo sendo previsível que aumentem significativamente as infeções respiratórias, “das quais uma proporção relativamente pequena será de covid-19”.

“Existe uma relação clara entre as infeções nos vários países e a proporção de vacinados. Por isso é que Portugal, no conjunto dos países europeus, é dos que tem menos casos e menos mortes”, adiantou o especialista, para quem a previsível duplicação do número de infeções não significa que “dobre o número de casos internados”.

De acordo com presidente do Conselho Nacional de Saúde, “vale a pena manter algumas medidas de precaução”, considerando que a “regra de ouro” é não sair de casa com sintomas de Covid-19.

“Penso que uma medida equilibrada é, com sintomas, nunca saia de casa. Esta é primeira e a regra de ouro”, avançou o especialista, ao defender ainda a higienização das mãos e o uso da máscara em espaços fechados e de maior risco de contágio.

Em declarações à Lusa, Henrique Barros adiantou ainda que se está a “caminhar para uma situação de endemia”, apesar de haver ainda “muita gente suscetível” de contrair a infeção pelo coronavírus.

“Estamos a caminhar para uma situação de endemia. A infeção não vai desaparecer, vai ficar seguramente. Seria totalmente inesperado que isso não acontecesse, mas ainda estamos muito perto da epidemia para haver uma separação clara”, disse o especialista.

ZAP // Lusa

 

 

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