Possível regresso das medidas deverá ser discutido hoje na reunião do Conselho de Ministros.
O aumento do número de casos de covid-19 registados nas últimas semanas tem deixado os especialistas alerta, com alguns a proporem o regresso de algumas das medidas de combate à pandemia — nomeadamente as que caíram antes de o país atingir o limiar de mortes recomendado pelo Centro Europeu de Doenças. De facto, o regresso da obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços fechados e da testagem gratuita poderão estar em cima da mesa. De acordo com o Observador, o tema pode ser mesmo discutido hoje, na reunião do Conselho de Ministros.
Ainda assim, ontem, Marta Temido afastou um cenário de reversão total, sublinhando que a situação está a ser monotorizada juntamente com os peritos, em reuniões de trabalho regulares. De acordo com a mesma fonte, Portugal é o mais da União Europeia com maior número de novos casos de covid-19, com um número médio de novos casos por milhão de habitantes que representa quase o triplo do país em segundo lugar. A nível mundial, desce para o sexto lugar.
“Nós temos estimativas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) que apontam para cerca de 60 mil casos [diários] no final do mês de maio. Sabemos que ainda estamos a subir em número de casos. Significa mais doença, mais pressão para os hospitais, para os serviços de saúde, isso é indesejável por todos porque precisamos de nos concentrar em responder a outras necessidades”, afirmou a ministra da Saúde.
A preocupação dos responsáveis com a capacidade dos serviços hospitalares, sobretudo depois de o diretor das urgências do Hospital de São João, no Porto, ter alertado para a situação preocupação que ali se vive. Marta Temido, por sua vez, reconheceu a possibilidade do condicionamento da atividade hospitalar programa, o que constitui “uma grande preocupação“.
A responsável também abordou as críticas que foram feitas às instâncias governativas sobre o referido levantamento de algumas das medidas de contenção quando os indicadores ainda não o permitia, dizendo que as decisões foram “sempre tecnicamente fundamentadas“. Ainda assim, reconheceu têm “uma componente de leitura política da realidade e daquilo que são as expectativas sociais e a proporcionalidade das medidas para fazer face a cada momento da evolução da pandemia”.
“A própria população portuguesa mostrava saturação das medidas e nós sabemos que podemos ter que guardar medidas para momentos mais difíceis. A questão é se este momento é um momento que se torna mais difícil ou se o conseguiremos vencer”.
Linhagem BA.5 é dominante, mas não há provas de maior severidade
De acordo o o relatório semanal do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) sobre a evolução da covid-19 no país, mas, na opinião de João Paulo Gomes, microbiologista responsável pela investigação sobre a diversidade genénica do vírus no mesmo organismo, não há provas de que esta esteja associada a uma maior diversidade. O especialista descreve que o processo de disseminação do vírus foi “muito rápida”, no entanto, este é um fenómeno que estamos a observar com as várias linhagens da Ómicron. “É um crescimento relâmpago“, resume.
Para o investigador é ainda claro que Portugal está a atravessar uma sexta vaga, sendo recorrentes situações de reinfeção, já que as novas linhagens têm uma elevada capacidade de fuga ao sistema imunitário. Ainda assim, ressalva que o INSA, juntamente com a Direção Geral da Saúde, está a “fazer um balanço com milhares e milhares de dados para tentar caracterizar melhor a BA.5 e perceber se poderá estar associada a severidade ou não”, descreveu. “Não estamos à espera disso, apesar de os internamentos terem agora começado a subir.”
Em entrevista ao jornal Público, e convidado a fazer previsões para os próximos meses, João Paulo Gomes explicou que qualquer cenário hipotético será um “tiro no escuro”, lembrando o cariz “inesperado” da evolução do vírus e rejeitando uma comparação com o vírus da gripe. “Não nos surpreende tanto. É caracterizado por uma série de tipos que, Inverno sim, Inverno não, se repetem, sabemos mais ou menos o que nos espera. Aqui não. É tudo diferente, não vamos repetir as variantes anteriores, pelo menos isso não aconteceu ainda. O vírus vai acrescentando sempre qualquer novidade.”
ZAP:
“linhagem”??????????
Parece-me ter aprendido na escola que esta palavra se usa em relação a famílias – sim – de pessoas, e, normalmente, com alguma acepção de “alta colocação social” – não quero entrar pelo ‘politicamente correcto’ nem numa ‘luta de classes’.
No caso de um vírus (ou outro agente patogénico), não é mais comum – se não mesmo mais correcto – usar “estirpe” ou variante?
Caro leitor,
Obrigado pelo reparo.
O termo linhagem é sinónimo de estirpe e generalizadamente usado como tal na comunidade científica em Portugal.