Costa ao estilo Gato Fedorento: “O Ventura fala, fala, fala, mas faz o quê?”

Debate agitado, como já se esperava, entre o primeiro-ministro e o líder do Chega. Desemprego, “clientelas” e corrupção foram assuntos fortes.

A pandemia e sobretudo a vacinação foram os assuntos que inauguraram o debate da noite passada entre António Costa e André Ventura, na RTP. O primeiro-ministro comentou que vê “políticos a pôr em causa a vacinação”, falando directamente sobre o seu concorrente.

Ventura começou por responder: “O que os portugueses querem saber não é se eu estou vacinado, mas se têm médico de família amanhã!” – e depois esclareceu que quer ser vacinado, aproveitando para lembrar que muitos deputados e governantes “foram a correr” para serem vacinados ainda antes de polícias, professores e bombeiros: “Eu não fui a correr. Eu deixei-me ficar para trás. O que não percebo é porque um político tem prioridade em relação a milhões de portugueses“, sublinhou o deputado, que já foi infectado pelo coronavírus.

IRS igual para todos

O candidato do Partido Socialista criticou o facto de o seu adversário querer “tendencialmente” que toda a gente pague impostos com a mesma taxa: “Acha que isto é uma sociedade justa? A justiça fiscal envolve progressividade no sistema. E o senhor é inspector tributário. Está com licença. Eu sei que deixou de ser inspector tributário para ir para uma empresa de consultoria fiscal: deixou de fiscalizar a cobrança de impostos, para ir dar conselhos a quem quer fugir ao fisco”.

André Ventura negou essa intenção e reforçou a ideia de que o Chega tem uma proposta gradual, para que se alcance progressivamente uma taxa de IRS “igual para todos”, já depois de cortar para metade a classe política e as nomeações, e assim poupar nas despesas. E atacou a “maior carga fiscal da história do país, por causa de António Costa”, alegando que há um Estado que tem “clientelas” em todo o lado.

Desemprego: Portugal vs. Espanha

Ao sublinhar a descida da taxa de desemprego em Portugal, e respondendo à descida de 20 por cento em Espanha (destacada pelo oponente), António Costa disse que Ventura apresenta uma táctica “clássica” na sua família política: “Pega num caso, procura generalizar, divide o mundo entre bons e maus e isso depois leva-o a mostrar muitas fotocópias mas pouca realidade. A taxa de desemprego em Espanha é bem superior à taxa de desemprego em Portugal”.

Ventura sublinhou que o “legado” de António Costa é ter originado o aparecimento de mais 400 mil pessoas pobres em Portugal: “Enquanto as clientelas políticas à volta do seu Governo enchem os bolsos, os bombeiros recebem 297 euros. Isso deveria envergonhá-lo”. Promover um crescimento económico “a sério”, ter um sistema fiscal positivo e efectivo são prioridades do Chega para mitigar a pobreza.

Corrupção: falar, falar…

Corrupção, um tema frequente no discurso de Ventura. Mas, quando é para votar, não está presente, atirou Costa: “O senhor deputado fala, fala, fala, mas depois é preciso ver o que faz. O senhor deputado fala muito sobre corrupção: no dia 19 de Novembro, onde estava?”. O líder do Chega respondeu que estava numa reunião, em Bruxelas. “Pois… Faltou à Assembleia da República. E foi nesse dia que foram votados dois diplomas fundamentais no combate à corrupção. Foram votados por unanimidade, mas ficou registada a ausência do Chega. Ou seja, no momento da verdade, quando é para votar, o senhor deputado não está! O senhor deputado fala, fala, fala, mas não faz! Comigo não passa, comigo não passa!”, repetiu o socialista.

André Ventura, que não esperava que o seu adversário no debate trouxesse o tema da corrupção para este debate, destacou o facto de, já sob o Governo de Costa, Portugal ter descido para a 33.ª pior posição na tabela mundial da corrupção. E trouxe outros números: “Em 2019 havia 15 autarcas arguidos por corrupção e 14 deles eram do Partido Socialista. Há oito governantes actuais com processos em tribunal. Deveria estar a pedir desculpa aos portugueses. O primeiro-ministro potenciou a corrupção“.

Governo PSD e… Casa Pia

António Costa não respondeu à possibilidade de viabilizar um Governo liderado pelo Partido Social-Democrata. André Ventura fará qualquer “sacrifício” para tirar António Costa e o Partido Socialista do poder.

O número um do Chega fechou o debate criticando António Costa em relação ao processo Casa Pia: “Há escutas suas, por todo o lado, a tentar interferir no processo. E isso não é muito bonito”. O líder do PS lembrou que Ventura foi condenado em tribunal por ofensas racistas a uma família do Bairro da Jamaica.