Costa “levou pancada de todos”, com os nove a apalparem terreno para alianças — mas sem vassalagem

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RTP

No debate a nove, Costa foi o visado das críticas, tendo levado “pancada de todos”. Os partido sondaram eventuais alianças, mas não se comprometeram.

Os candidatos dos nove partidos com assento parlamentar juntaram-se, esta segunda-feira, em Lisboa, para debater algumas das questões mais proeminentes da atualidade portuguesa.

O debate arrancou com o tema das soluções de governabilidade. António Costa tomou a palavra e não escondeu o desejo de uma maioria absoluta, recusando dizer se o PS deve viabilizar o governo do PSD se os socialistas saírem derrotados.

Pelo contrário, Rui Rio admite conversar com o PS caso os sociais-democratas fiquem no segundo posto. “O que me compete dizer aos portugueses é qual é a melhor solução de governo que tenho para dar: e é uma maioria com estabilidade”, disse o líder do PSD.

Enquanto Costa admite que abandona a liderança caso perca as eleições, Rui Rio insiste que vai negociar uma solução de Governo.

“A melhor solução é termos maioria absoluta, sim, é a que garante estabilidade durante quatro anos”, reitera Costa, insistindo que a alternativa é “andar de crise em crise, de dois em dois anos”.

Catarina Martins lembrou que o chumbo do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) não impede um acordo pós-eleitoral. Para a coordenadora do Bloco de Esquerda são assuntos diferentes.

“A CDU continuará a ser a grande força da convergência para essas respostas”, disse João Oliveira, em representação da CDU, face à indisponibilidade de Jerónimo de Sousa.

E se António Costa admite sair caso perca as eleições — e sendo Pedro Nuno Santos um dos favoritos a substituí-lo —, Francisco Rodrigues dos Santos disse que Costa devia começar a levar o ministro para os debates.

“Nenhum voto no CDS será desperdiçado, será sempre um voto numa nova maioria de direita, será um voto contra António Costa e a esquerda e um voto contra o bloco central”, acrescentou o líder do CDS-PP.

“Maioria absoluta ou bloco central não servem os interesses dos portugueses”, diz, por sua vez, Inês Sousa Real. “O PAN jamais viabilizará uma solução governativa que aprovará retrocessos como a tauromaquia”, disse a deputada, mantendo a porta aberta a acordos com a esquerda e com a direita.

André Ventura diz que “se tiver uma votação expressiva, acima dos 7%, como as sondagens dão”, vai exigir a presença do Chega num eventual Governo social-democrata.

João Cotrim Figueiredo mostrou disponibilidade para conversar com o PSD, porque “há uma cultura democrática comum”. Em contrapartida, o líder da Iniciativa Liberal criticou Costa por não abrir o livro sobre futuras alianças.

Rui Tavares, do Livre, recusou traçar cenários hipotéticos. “Não vale a pena ter grandes jogos de sombras-chinesas, a questão é simples: se houver maioria de esquerda faremos parte da solução, e se houver maioria de direita seremos oposição”, atirou.

Economia: Aquilo que a história explica

O debate passou à Economia, com Catarina Martins a dizer que, além dos impostos, o Bloco de Esquerda quer “descer o IRS de quem trabalha” e o IVA da eletricidade.

Rui Rio vai mais longe e diz que “é preciso baixar o IRC, o IVA, o IMT, o IMI, tudo”, mas alerta para os perigos das exigências da esquerda: “Mas só podemos baixar o que o Orçamento permite. E as governações à esquerda só têm aumentado a carga fiscal. Quando distribuímos aquilo que não temos, ou dá inflação ou dá défice na balança de pagamentos e desequilibra isto tudo. Um dia até foi preciso chamar a troika por causa disto. Não podemos criar a ilusão do momento”.

António Costa sublinha que a prioridade para o próximo mandato será apostar na aceleração do crescimento do país e criar melhores condições para quem trabalha. Fazer alterações no IRS é uma das prioridades.

Confrontado com a falta de crescimento de Portugal nos últimos 20 anos, o primeiro-ministro justificou que “a história explica isso”.

Costa disse ainda ter pedido tempo para se defender, sendo que estava a “levar pancada de todos”.

Para Cotrim Figueiredo, a maneira mais rápida de subir os salários líquidos é diminuir os escalões de IRS, propondo dois escalões até se conseguir atingir apenas um igual para todos.

Inês Sousa Real pediu “uma política social”, apelando à revisão dos escalões do IRS, à criação de uma taxa ambiental para quem polui e à descida do IRC. O PAN quer também criar o Ministério da Economia e das Alterações Climáticas.

Uma redução de impostos, incluindo do imposto sobre combustíveis, é uma das propostas apresentadas por André Ventura. “Gastamos 300 milhões de euros por ano em observatórios e fundações contra o racismo, contra isto e contra aquilo, enquanto devíamos estar a ajudar as famílias”, atirou.

O Livre defende um IRC mínimo global de 15% e insista na redução do IVA da eletricidade.

João Oliveira falou do aumento de “todos” os salários — “não é só o salário mínimo”.

Enquanto isso, Francisco Rodrigues dos Santos pediu a redução do IRC para uma taxa de 15%, o alívio de impostos como os dos combustíveis e o pagamento pelo Estado da despesa nas farmácias dos idosos mais vulneráveis.

Saúde: Da “via verde da saúde” ao reforço do SNS

Na área da Saúde, Rio defendeu um “SNS tendencialmente gratuito” e rejeitou a narrativa de Costa de que o PSD quer privatizar o Serviço Nacional de Saúde. Assim como já o tinha feito no debate com António Costa, o social-democrata disse que quer exigir ao serviço público que faça tão bem como o privado.

O chefe do Executivo, por sua vez, quer tornar mais atrativa a carreira da medicina geral e familiar e aumentar os meios de terapêutica e diagnóstico nos hospitais.

“Apresentou um projeto de revisão constitucional no sentido de que o SNS deve deixar de ser tendencialmente gratuito”, disse Costa a Rio, com o opositor político a negar.

CDS e IL querem uma “via verde da saúde”, que permita a qualquer pessoa ser atendida num hospital, independentemente de ser público, privado ou cooperativa.

“Não há liberdade de escolha se não for no SNS”, contra-atacou João Oliveira. O comunista defende que os privados fazem lucro do “negócio da doença” e, por isso, é preciso fixar profissionais de saúde no SNS.

Da parte do Bloco de Esquerda, Catarina Martins pede a dedicação exclusiva dos profissionais de saúde ao SNS.

“Quem ouvir a Catarina Martins parece que fomos nós os quatro [da direita] que aprovámos os últimos orçamentos do Estado”, atirou André Ventura.

Rui Tavares diz que o SNS deve ser reforçado e fala do aumento dos beneficiários de subsídios de desemprego.

Reiterando a aversão à tauromaquia, Inês Sousa Real aposta na saúde preventiva e no reforço dos psicólogos. A porta-voz do PAN disse ainda que o chumbo do OE foi “deitar a toalha ao chão”.

As últimas palavras

“O que ficou claro neste debate é que há uma proposta de Governo de maioria estável e uma proposta alternativa da direita, que é uma proposta de desgoverno”, disse o primeiro-ministro português.

Rui Rio quer “mais rigor e menos facilitismo, uma atitude mais reformista” para resolver os problemas do futuro. Enquanto isso, Catarina Martins e João Oliveira apelaram ao voto útil nos seus respetivos partidos.

Francisco Rodrigues dos Santos aproveitou para afastar uma coligação com o PAN: “Um voto no CDS é para derrotar o bloco central e uma maioria do PS com acordo com o partido animalista radical do PAN”.

Inês Sousa Real apelou à agenda climática e mencionou medidas de igualdade de género e lei de bases do clima que o PAN conseguiu trazer aos portugueses.

“Não podemos continuar a ser vistos como o país em que os bandidos gamam e não vão para a prisão”, atirou o líder do Chega, defendendo penas mais graves para a corrupção.

Cotrim Figueiredo trouxe à baila o assunto da TAP, insistindo na sua privatização. “Não teríamos necessidade de ter cada família portuguesa a pagar 1.200 euros”, lamentou o liberal.

Rui Tavares optou por criticar o facto de, inicialmente, o Livre ter ficado fora dos debates. “Parecia que a história destas eleições já estava escrita”.

Daniel Costa, ZAP //

6 Comments

  1. E ainda os restantes líderes não falaram:
    – Das mortes dos incêndios
    – Dos negócios das golas anti fumo
    – Dos negócios do lítio e do hidrogénio
    – Do Cabrita e dos seus múltiplos disparates (Zmar, Morte na A6,…)
    – Do abandono no Afeganistão dos afegãos que auxiliaram os militares portugueses no terreno
    – Da dívida pública galopante e insustentável (com a subida dos juros vai ser bonito)
    – Da nomeação do Procurador Europeu
    – Da nomeação do presidente do tribunal de contas
    – Da não renomeação da antiga Procuradora Geral da República
    – Dos múltiplos casos de familiares no Governo (isto assemelhou-se mais a uma monarquia do que a uma república)
    – Do aumento do imposto sobre os produtos petrolíferos com a promessa que baixaria. Foi até hoje…
    – Da extinção da figura do Provedor do Portugal2020 (não daria jeito para as negociatas que se fizeram entretanto)
    – Da escolha para aeroporto de uma área que daqui a 50 ou 100 anos vai estar debaixo de água
    – Da nomeação para Governador do Banco de Portugal do antigo ministro das finanças com claro conflito de interesses em muitos assuntos
    – Da diminuição das horas de matemática e português quando no plano internacional os nossos alunos começavam a dar cartas
    – Das mentiras do ministro da educação aquando da paragem das aulas (que até foram notícia em Inglaterra)
    – Da paragem total das intervenções cirúrgicas e consultas de especialidade nos tempos de pandemia quando podiam e deviam ter recorrido ao privado e ao social
    – Da tristeza e complexidade que foi a regulamentação do teletrabalho
    – Do facto de termos perdido o campeonato do crescimento económico contra todos os nossos adversários (países de leste; penso que agora só mesmo a Bulgária é que ainda está atrás de nós)
    – …

    Muitos mais haveria para dizer. Foi um bom governo… diria o Cabrita.

  2. Os meus sinceros parabéns a Carlos Daniel, que foi um moderador exemplar. Educado, firme, vivo e informado. Muito bem, um profissional de primeira!

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