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O Congo é o rio mais profundo do planeta (e há um peixe que o prova)

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(dr) Melanie Stiassny

Lamprologus lethops, espécie de peixe que vive no baixo Congo

A morte misteriosa de alguns peixes no baixo Congo ajudou os cientistas a descobrir que este é o rio mais profundo do planeta.

Segundo o Live Science, o primeiro vislumbre dos cientistas relativamente às profundezas do baixo Congo começou há mais de uma década, devido aos peixes pálidos e cegos que só apareciam quando já estavam a morrer ou mortos.

Melanie Stiassny, curadora do Departamento de Ictiologia do Museu de História Natural de Nova Iorque, nos Estados Unidos, estuda a biodiversidade e a evolução dos peixes nos rápidos turbulentos do baixo Congo, os últimos 322 quilómetros antes de o rio desaguar no Oceano Atlântico, na República Democrática do Congo.

Na apresentação da investigação, em dezembro de 2019, no encontro anual da União Geofísica Americana (AGU), Stiassny afirmou que mais de 300 espécies de peixes foram encontradas apenas no baixo Congo.

Os rápidos são tão poderosos que separam fisicamente as populações de peixes, fazendo com que novas espécies evoluam, mesmo quando não há muita distância física a separar os animais dos seus parentes próximos. E houve uma que se destacou.

“Num lugar, encontrámos um peixe estranho: um ciclídeo cego e despigmentado — que se parece muito com um peixe de caverna, embora não haja cavernas neste rio”, declarou.

“Quando um destes peixes morreu na minha mão, formaram-se bolhas sob a pele e sob as guelras”, disse a investigadora, referindo que este era um claro sinal do síndrome de descompressão. Durante um rápido aumento de águas muito profundas para profundidades mais rasas, a pressão cai acentuadamente e faz com que gases dissolvidos formem bolhas dentro do corpo. Se não for tratada, esta condição pode ser fatal.

Este fenómeno levou, então, à pergunta que os investigadores não tinham considerado anteriormente: Poderia haver águas realmente profundas no baixo Congo? Para responder a isso, a equipa colocou caiaques nos rápidos, implantados com equipamento para medir a profundidade do rio, e usaram um perfilador hidroacústico para medir a direção e a velocidade das correntes ao longo da coluna de água.

Os resultados da investigação, segundo Stiassny, foram “espantosos”. O fundo do rio no baixo Congo fica a mais de 200 metros abaixo da superfície. Além disso, os dados também mostraram que há correntes poderosas a circular pela água, criando jatos fortes que disparam do fundo do rio até à sua superfície.

Um pequeno peixe que viva perto do fundo do rio e que nade num desses jatos seria rapidamente lançado à superfície centenas de metros, onde morreria pelas curvas, explicou a investigadora.

Agora que a morte misteriosa destes peixes já foi explicada, a equipa quer perceber porque é que algumas das populações de peixes que estão isoladas umas das outras apresentam características semelhantes, um processo conhecido como evolução convergente.

ZAP //

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